10/06/2016

Capítulo 12.


Selena Gomez POV.
02h35min AM.

Eu abro meus olhos, o escuro é quase como se eu estivesse permanecido com todas as minhas pálpebras juntas. A janela está aberta, eu noto as cortinas dançarem conforme o vento se manifesta. Apesar de tudo, não está frio, muito pelo contrário, é um clima eventualmente bom e razoavelmente quente. Numa balança, ela estaria reta, eu gosto.
Quando ouço um barulho brusco vir de fora do quarto, eu espremo meus olhos e me viro para Justin, que a propósito, não está virado para mim. Tenho uma bela visão de suas costas nuas e úmida. Ele sente calor, apesar de não estar tão quente.
Delicadamente, passo minha mão em sua pele, a umidade apossa meus dedos rígidos, eu os balanço e algumas dobras se formam em suas pele. Minha voz, de uma maneira baixa, se protesta entre o silêncio da noite:
— Justin... — ele nem ao menos se mexe, então, novamente tento sacudir seu corpo, porém não quero preocupá-lo. — Justin... — tento outra vez e mesmo sem receber resposta, levanto minhas costas do colchão e permaneço três segundos sentada, com a coberta tampando minhas pernas. Quando crio coragem, me levanto com pressa e dou à volta no espaçamento que há no chão à cama rígida e escura.
Meus pés sentem a frieza da madeira. Sem pensar duas vezes, me deito bem a sua frente, quase sentindo meu corpo cair da cama, afastando meus pés do colchão e os enfiando por cima dos dele. Apoio minha cabeça na curva espaçosa do seu pescoço, ele se mexe um pouco e vejo seus olhos se abrirem com calma. Há uma imensa superfície vazia por atrás de suas costas.
Sinto Justin engolir o seco, porém ele nada diz. Inclino um pouco meu rosto e deixo meus lábios serem selados aos dele, nem um músculo do seu corpo se move, eu não me preocupo com isso, estou ocupada demais rodando meus braços em seu corpo e apoiando meu rosto sobre seu busto desnudo. O loiro novamente se mexe, mas apenas faz com que eu me encaixe de uma maneira melhor em si.
— Está com medo? — questiona-me, com uma voz baixa e segura de qualquer outra coisa.
— Sim, eu ouvi um barulho. — estou medonha, isso é evidente.
— É apenas o vento forte se colidindo com a madeira do chão. — explica. — Não se preocupe. Só há nós dois aqui.
— Tudo bem. — ele não me responde, mas eu quero conversar, não quero aceitar o fato de vê-lo dormir novamente. — Justin?
— Oi?
— Se for um garoto, podemos chamá-lo de Elliott?
— Claro. — ele responde quieto, logo noto que realmente sente sono.
— Justin?
— Oi, Sel? — olho para cima, Justin mantém seus olhos fechados, sua mão direita está por baixo do travesseiro e a esquerda por cima do meu corpo. Permaneço abraçando-o.
— Você promete que estará lá quando nosso bebê estiver nascendo?
— Eu estarei. Não se preocupe com isso. — ele garante. — Mas agora eu posso dormir? — volto a pousar meu rosto em seu peito, deixando-me mais tranqüila.
— Boa noite, amor. — eu respondo sorrindo, ele não me responde, realmente sente sono.

Dias depois.
— É aqui? — eu o pergunto enquanto encaro a imensa casa ao lado do carro. Justin puxa a marcha e responde com uma arrancada estranha causada por sua garganta. — Você a conhece?
— Sim, ela é uma velha insuportável. — responde ele, tirando o cinto e abrindo a porta do automóvel. Logo me movo, e então, segundos depois, me vejo descer do carro e esperá-lo ao lado de uma caixa de correio antiga. — Não estranhe caso ela comece a xingar do nada, por algo à toa. É da natureza dela.
— Entendi. — quando o vejo caminhar até a casa, eu o sigo rapidamente, assistindo a porta ser aberta e observando algumas garotas aparecerem com uma mulher. O loiro de seus cabelos se mistura com alguns fios brancos. Ela é bonita, apesar da idade ter alcançado a pele enrugada que agora entra em evidencia.
— Justin! Que bom que veio. Sua mãe me ligou na semana passada, mas não esperava que você fosse realmente aparecer. — a senhora diz, parece haver sarcasmo em sua voz. Isso, notoriamente o irrita, pois sinto seu corpo ficar rígido, estou segurando o antebraço direito. — Você deve ser a Selena. — com cautela, eu assinto com a cabeça e transmito umidade aos meus lábios. — Entrem, a nova sessão começa agora.
Sua casa é realmente grande. Fomos guiados ao segundo piso e entramos em uma sala imensa, cercada por medianas mesas metálicas. Há alguns casais parados por trás de algumas, todos nos olham. Justin se sente menosprezado, seu resmungo me incomoda, eu penso que ele quer sair correndo. Seguro em sua blusa, ele me olha e é como se dissesse: “não quero fazer isso, não posso, é vergonhoso”. Talvez seja, mas não só para ele, para mim, também. É como se estivéssemos numa sala de horrores, recebendo olhares egocêntricos de todos os lados, notando que somos o casal mais jovem no meio de tantos outros mais velhos.
— Tudo bem? — pergunto baixinho, agora estamos parados por trás de uma das mesas. Há uma boneca e uma mamadeira sobre, tudo exatamente para um simples treinamento.
— Não, isso é ridículo. — ele reclama no mesmo tom que eu o perguntei segundo atrás. Fico mais preocupada, Justin não sabe lidar com olhares intrigantes, no colégio ninguém nunca o olhou de tal forma, agora em multidões desconhecidas, as coisas são distintas, nem ao menos ele poderia mudar a forma como está se sentindo constrangido e incomodado. Eu me lembro da sensação quando adentrei ao colégio.
— É, eu sei. — respondo inquieta, ele me olha de lado e bufa.
Quando a Georg — dona da casa —, dá sua orientação casual, começamos a encarar a boneca molinha sobre a mesa. Logo fui a primeira a pegá-la, assim como as outras mulheres ao redor da senhora dos olhos claros. Justin permaneceu quieto durante vinte minutos, assistiu à aula, não se deu ao trabalho de tentar fazer qualquer coisa.
— Agora os rapazes... — diz a mulher. — Quero que tentem trocá-la, lembrando que o bebê é molinho e que qualquer ato desengonçado pode quebrá-lo.
— Sua vez. — digo rindo. O garoto recolhe a boneca das minhas mãos e a coloca sobre a mesa, por cima de uma espuminha rosa.
— Eu não sei nem ao menos segurar uma boneca. — quando diz, noto o humor em sua voz, dessa vez ele não parece tão irritado, não é como se ele estivesse se sentindo pressionado com tudo isso.
Então, de repente, a boneca solta um choro estranho. Justin arregala seus olhos e encara por cima de tudo, observando todos olharem em nossa direção, inclusive Georg. Ele, por sua vez, balança a boneca e a coloca em seu busto. Intencionalmente, quer fazê-la se calar.
— Que porra é essa? A boneca está chorando. — fala para mim, eu rio, pois acho engraçado o seu desespero nesse momento. Então, automaticamente, Justin a puxa pela perna e sacode seu corpo. Eu tampo minha boca com as mãos, quero abafar a risada.
— Justin! —a mulher repreende, sua voz está rígida e irada. — É assim que você segura seu filho?
— Isso não é meu filho, isso é uma boneca. — ele responde sério. — E eu estou tentando fazê-la calar a boca.
— E você fará isso quando, por um acaso, seu filho chorar durante a noite? — questiona ela. — Não é assim que se trata uma criança. E essa boneca foi elaborada justamente para esse tipo de curso. Ela chora quando se sente desconfortável.
— E como eu a faço parar de chorar? — ele pergunta estressado, colocando-a em seu colo de uma forma melhor, acolhendo seu corpinho mole.  
— Da mesma forma que faria caso um bebê chorasse. — assim que Georg responde, dá suas costas e caminha para o centro da sala. Justin solta seu pequeno ataque de chilique, enquanto ainda escutamos o choro impaciente da boneca em seu corpo.
— Bem, me dê. — eu peço. Justin me olha de relance, suas pupilas são espremidas na lateral de seus olhos. Agora sorrio, quero reconfortá-lo e demonstrá-lo que isso tudo é apenas uma boneca, é apenas um treinamento, está tudo bem, não há por que se estressar. Está tudo bem em não saber o que fazer.
— Você sabe cuidar de criança?
— Não, mas eu acho que sei como segurar uma. — ele assente com a cabeça e coloca o brinquedo em meus braços. — Eu não quero que você pegue nosso bebê pelas pernas. — brinco, o faço finalmente rir. Quando deito a boneca em meu braço esquerdo, balanço meu corpo e aos pouco seu choro cessa. — Vamos tentar trocá-la, agora. — apoio seu corpo sobre a espuma. Eu não sei como fazer, mas observo as outras pessoas ao meu redor. Imito cada ato.
— É, eu definitivamente não sei como cuidar de uma criança.
— Verdade. Eu já sinto dó do Elliott.
— Com o Elliott as coisas serão diferentes. — avisa ele. Rimos juntos e olhamos a boneca por cima da mesa. — Espero que ele não nasça tão feio quanto esse troço.
— Ei! — repreendo-o. — Não fale como se o nosso bebê tivesse alguma chance de nascer feio. — rolo meus olhos, ele apoia seu corpo no meu e se balança um pouco. — Ele será lindo, e mesmo que não seja, você terá de achá-lo lindo.
 — Não há chances de esse bebê nascer feio, definitivamente não há chances.
Após vinte minutos, entramos no carro, seguindo estrada adiante. Justin liga o rádio, acho que toca sua música favorita, eu conheço a voz, mas não me recordo de quem seja. Depois de ouvi-lo cantar alguns trechos, ouço sua voz questionar-me:
— Qual é a pergunta de hoje?
 Em quem você pensa quando olha para o céu? — Justin nega com a cabeça, e, de repente, responde:
— Não lhe responderei isso.
— Por quê? — eu me remexo e aproximo meu rosto do dele. Por precaução, Justin reveza sua atenção a mim e à estrada. Está rindo, não sei por quê. — Eu penso em você quando olho para as estrelas. — respondo, ele trava seu maxilar. — Elas podem mudar o futuro, sabia?
— As estrelas não podem mudar nosso futuro, Selena, elas são apenas uma grande luminosa esfera.
— Não seja sem graça. — peço rindo.
— Eu não sou sem graça, eu sou realista. Você quem vive num mundinho cor-de-rosa.
— Não é verdade, eu apenas tento ver positividade nas coisas, ao invés de reclamar de tudo e todos.
— Está dizendo que reclamo de tudo e todos?
— Estou dizendo que a vida é curta demais para poder ficar levando tudo tão a sério. — Justin ri, ele vira seu rosto por questão de segundos e beija o topo da minha testa. 
— Você não é real. — assegura-se. — Mas me fale, por que tem medo do escuro?
— Eu não tenho medo do escuro, eu tenho medo do que há nele.
— Não há nada nele.
— Você não pode me garantir isso. — Justin para o carro e eu noto que estamos em frente a uma lanchonete.
Sentamos em uma das primeiras mesas. Eu peço fritas e ele uma coca-cola. Dividimos a bebida, enquanto eu jogo batata sobre seu rosto, querendo que alguma acerte sua boca. Nunca o fiz gargalhar tanto, ele acaba dizendo que ama quando o fazem rir.
Meu rosto é reprimido, eu fico séria quando vejo Hailey adentrar o estabelecimento. Ela nos olha, pisca algumas vezes e se afasta, juntando-se a algumas amigas. Alguns minutos depois, vejo um garoto se sentar ao lado do Justin, estou à frente de ambos os garotos.
— Então você é a Selena... — gosto do tom da sua voz, eu o conheço, apesar de tudo. — Eu sou o Ryan.
— Eu sei. — brinco, mas em momento algum pareço rude. — É um prazer te conhecer, Ryan. — ele sorri e encara Justin, que beberica seu refrigerante.
— Eu vi vocês dois aqui, então não pude perder essa oportunidade. Justin ainda não me convidou para fazer uma visita a vocês. — explica-se o louro.
— Você pode ir quando quiser. — falo sincera, eu sempre gostei dele, mesmo sem nunca termos nos falado.
— Você gostou do presente?
— Eu adorei, obrigada! — sorrimos juntos. — Você será o padrinho do Elliott?
— Elliott? É um garoto? — questiona.
— É. — diz Justin.
— Ainda não sabemos, mas ele acha que é, então, vamos fingir que temos essa certeza.
— Eu quero que seja uma garota. — Ryan fala e pega algumas fritas, despejando-as sobre sua boca.
— Você não tem que querer nada, o pai sou eu, não você.
— Eu sou o padrinho. — rebate o loiro.
— Quem disse isso? — pergunta Justin, ele parece irritado, não sei se isso pode gerar uma briga.
— A Selena. — responde Ryan. Eu olho para cada um quando ouço uma resposta.
— A Selena não disse isso, ela perguntou se você seria.
— E eu estou dizendo que serei. — diz Ryan.
— Eu não aceitei isso. A droga do filho é meu.
— Justin, não chame nosso bebê de droga. — sou rude.
— Não, eu não chamei o bebê de droga, eu chamei a situação de droga.
— Selena, eu posso ser o padrinho do Elliott? — assim que Ryan me pergunta, ele vira seu rosto e me encara gentilmente.
— Claro. — sorrio logo depois de respondê-lo.
— Fim de papo. Eu sou a droga do padrinho do Elliott.
— Selena, você precisa aprender a dizer “não” às pessoas. — eu gargalho, Justin apenas balança sua cabeça e encara a vidraça ao seu lado. — Não estou gostando dessa afiliação entre vocês dois. Daqui a pouco o Ryan pega o travesseiro dele e vai se juntar a nós dois.
— Você sabe que eu irei para lá na primeira oportunidade, não é mesmo? — gargalho alto, eu os achei adoráveis juntos. — Ficarei no quarto do Elliott.
— O quarto do Elliott não tem nada além de janelas e porta. — responde o outro. — Mas eu não deixo você dormir nem no chão do quarto dele.
— Você ainda vai precisar de mim, e sabe o que eu direi?
— O que você dirá?
— Eu direi “vá se foder, seu grande pedaço de merda”.
Estou calada, sorrindo e encantada com eles. Apesar de o diálogo ser um tanto “ofensivo”, continuo achando graça na forma expressiva que há sobre a face de Ryan. Ele é realmente engraçado e gentil. Talvez eu queira vê-lo sempre.

Um mês depois.
Desço as escadas com cautela, apoiando minha mão na barriga, observando a porta ser aberta. Assim que vejo o rosto suado do Justin, sorrio, porém logo depois observo seus braços puxarem algo para dentro de casa. Depois de alguns segundos, observo mais três garotos ajudarem a empurrar a madeira grande, trazendo-a para o corredor à frente da escada onde continuo de pé.
— O que é isso? — pergunto.
— Um berço. — responde Chaz, depois de balançar seus cabelos e limpar o suor de sua testa com as costas de sua mão direita. Eu sorrio ao notar que realmente é um. Há um pequeno colchão dentro. É branquinho, e a madeira do berço é clarinha e bem nova.
— Por que vocês pararam? — pergunta Chris, entrando em casa.
— Porque é pesado e você não ajuda. — reclama Jaden. — Larga essa droga de celular e vem ajudar a colocar isso no quarto. — direciono meu olhar ao Justin, ele parece cansado. — Cadê o Alfredo?
— Está trazendo as tintas. — responde Chris, ele desliza o aparelho para dentro do seu bolso e acena ao me ver.
— E por que você está à toa, Christian? — a voz do Justin é brava. Ultimamente tudo tem o estressado.
— Relaxe, eu vou ajudá-lo a trazer as tintas. — o garoto responde e sai de casa, noto uma picape parada perto do asfalto empoeirado.
Termino de descer os últimos degraus e beijo a bochecha de cada um deles, recebendo sorrisos bondosos de todos. Dou um imenso espaço e os deixo subir as escadas quase infinitas, logo levo meu olhar à porta e caminho para fora de casa, me aproximando da picape.
Alfredo e Christian tiram algumas latas de tintas de dentro do veículo vermelho.
— Oi, Sel. — diz o moreno, revezando seu olhar a mim e às tintas agora sobre o chão. — Eu trouxe brancas e amarelas, já que ainda não sabemos o sexo do bebê.  — eu não entendo, não sabia que eles trariam isso.
— Quem comprou o berço? — pergunto ansiosa.
— Eu acho que foi o Justin. — responde Chris. — As tintas fui eu e o resto dos rapazes.
— Nós vamos começar a pintar no sábado que vem, porque hoje está tarde e o Justin trabalha durante a semana. — explica Alfredo. Hoje é sábado, mas suponho que nenhum deles queira passar seu domingo pintando um quarto. — Ah, eu quase me esqueci... Tem uma sacola dentro da picape. É sua.
— Minha? — quando pergunto, ele joga as chaves para cima e eu as pego com rapidez, vendo os dois se afastarem e irem em direção a casa aberta; seguram as quatro latas de tintas.
Assim que recolho a sacola preta e vejo por dentro da mesma, analiso algumas latas de picles e potes com manteigas de amendoim. Meu paladar transfere água no mesmo segundo. Eu havia pedido isso ao Justin ontem de manhã.
Entro em casa e coloco a sacola escura sobre o balcão da cozinha, retirando os objetos de dentro e os colocando dentro do armário preso à parede clara.
Assim que subo ao segundo piso e sigo em direção ao último quarto do corredor, ouço Justin brigar:
— Tome cuidado com esse berço, ele foi caro. Custou todo o meu salário. — Ryan gargalha, está olhando pela janela, enquanto Alfredo se mantém ao lado das quatro tintas; duas brancas e duas amarelas. O resto dos garotos encaram Justin, todos de pé.
— Você tem dinheiro, pare de reclamar. — revida Chaz.
— Não, meu pai tem dinheiro, eu não. — o loiro explica. — Mas enfim, valeu.
— Não foi nada. Sábado a gente começa a pintar. — diz Ryan. — Vai à casa do Dylan hoje?
— Não, eu estou cansado. — Justin apenas responde e eu finalmente entro no quarto, vendo a atenção de todos serem exposta a mim.
— Beleza, a gente tá indo nessa. — foi a vez de Jaden dizer. Logo ele caminha em minha direção e me abraça, beijando minha bochecha. Isso se tornou comum desde o dia em que nos conhecemos. — Até mais, Sel. Fique bem.
Todos eles se despedem de mim, depois os vejo ir embora, deixando-me sozinha com Justin.
— O que tem na casa do Dylan? — eu pergunto de uma forma meiga, enquanto me aproximo e aliso minha mão na madeira do berço.
— Ele está fazendo uma festa. — ri. — Ele é o mais festeiro de todos nós.
— Hm. — eu não quero parecer chata, mas sinto que já estou sendo. — Foi na casa dele que você me conheceu, se lembra?
— Lembro. — Justin sorri e me abraça, fazendo com que minha barriga encoste à dele. — Eu trouxe seus picles, viu?
— Uhum, mas eu vou deixar para comer mais tarde. — explico. — Porque eu fiz o nosso jantar pela primeira vez. — quando olho para cima e encaro seu rosto, noto que agora desfez o sorriso e adotou novamente sua feição séria.
— Selena... Você tem ido à casa dos meus pais? — eu não o respondo, pois sinto seus braços me largarem. Dessa vez eu o vejo ficar nervoso. — Eu vou perguntar outra vez: você tem indo à casa dos meus pais?
— Ouça, eu só pedi para que sua mãe me ajudasse... — tento me explicar, porém ele me corta e faz com que eu reprima meus lábios.  
— Você mentiu para mim. — Justin quase grita, mas parece tentar se controlar. — Você me disse que fica o dia inteiro em casa, mas não, você fica indo ver meus pais. Qual é o seu problema? Será que difícil você compreender que eu não quero que eles se metam entre nós dois?
— Justin, não precisamos brigar por causa disso. Sua mãe só me ensinou a cozinhar, foi só isso.  
— Se você quer ajuda, se vire com a sua família, deixe a minha fora dessas merdas, está me entendendo? — encaro bem seus olhos, eu me encolho um pouco.
— Você sabe sobre a minha situação com os meus pais, Justin.
— Eu sei e não me importo. — arregalo meus olhos, não gosto da forma como ele fala comigo nesse momento. — Você mentiu para mim e ainda fez tudo o que eu pedi para você não fazer.
— Não vejo motivos para você estar tão bravo. Ela só me ajudou, porque eu queria fazer algo para nós dois.
— A questão não é essa. Se você tivesse me pedido, eu teria comprado até um livro de receitas para você. — rebate-me. — Eu não quero que meus pais se envolvam entre mim e você ou entre nosso filho. Eu deixei isso claro há muito tempo.
— Tudo bem, eu entendo... — sou sincera.
— Não! — seu tom novamente é alto, mas dessa vez eu me assusto. — Você não entende.
— Por favor, não vamos brigar por isso. — imploro, ele está ocupado demais me encarando com aquele tipo de expressão que eu detesto. — Por favor, aja como se estivesse se importando comigo de verdade. — Justin bufa e prensa suas mãos em meus braços.
— Para com esse drama, ok? Eu não vou aceitar que você jogue o assunto para o alto e faça com que ele se vire contra mim. Não suporto quando você arranja uma forma de se vitimar.
— Você está se comportando como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo. Eu apenas estava visitando seus pais. — explico de uma maneira mais clara. — Não é como se eu  tivesse cometido um crime.
— Eu não vou ficar brigando com você. — Justin me solta a atravessa meu corpo, saindo do quarto. Eu o sigo. — Se quiser ir até a casa deles, vá. Não me importo. — puxo sua camiseta, seu corpo se vira bruscamente, Justin continua com aquele olhar forte para cima de mim.
— Por que está agindo assim? — eu pergunto, pois ele está nervoso desde a hora que chegou.
Quando largo sua camiseta, ele relaxa seu corpo e desce as escadas com pressa, vejo-o seguir até a cozinha. Então, sem hesitar, eu o sigo novamente, vendo seu corpo em frente à geladeira aberta. Seus olhos encaram demasiados minutos o jarro com água gelada, logo se dá ao trabalho de não o pegar e se afastar da geladeira depois de fechá-la.
— Bom... — eu começo um assunto, pois agora penso que ele se acalmou. — Amanhã eu vou ao shopping comprar algumas roupas para o bebê. — Justin trava seu maxilar e vira seu rosto para me encarar melhor. Outra vez, vejo seu olhar frio sobre mim. Nem ao menos crio ânimo para completar minha notícia.
— Selena... — sua voz sai falha, ele pisca cautelosamente. — Aonde você arranjou dinheiro para comprar roupas para o bebê?
— Ouça, por favor, não brigue comigo, eu... — o loiro me interrompe da pior forma:
— NÃO FOI ESSA A PERGUNTA. — Justin berra finalmente.
— Seu pai me deu...
— Eu não acredito que você fez isso. — ele sussurra passando suas mãos em seus cabelos ralos e secos.
— Mas eu juro que não pedi, ele ofereceu e insistiu muito. Jeremy disse que era para eu aceitar como um presente.
— Sabe qual é a pior parte? É que apesar de você ter mentido para mim, você fez tudo pelas minhas costas, agindo como uma qualquer ao aceitar o dinheiro que meu pai te ofereceu. Você acha que eu estou trabalhando para quê? — sua pergunta soa óbvia. — É justamente para comprar tudo o que o bebê precisa, e você está menosprezando isso. Qual o seu problema, afinal?
— Justin, eu não estou menosprezando nada do que você tem feito. — sou sincera, em momento algum senti como se ele não estivesse se esforçando. — Eu só não vejo problema em aceitar ajuda de pessoas que se importam com a gente. Sua mãe é a única companhia que eu tenho quando você não está em casa. Eu perdi o pouco de tudo o que eu tinha, Justin. — sibilo, pois sinto uma péssima contração. — Perdi minha família, minhas amigas, minha liberdade e até mesmo a invisibilidade que fazia as pessoas não serem cruéis comigo.
— Acha que só você perdeu algo com tudo isso? — ele está sendo sarcástico, enquanto eu sinto minha garganta inchar apenas por levantar meu tom de voz, não querendo, em momento algum, parecer fraca diante nossa discussão.
— Não, você perdeu sim algo. Você perdeu sua namorada e o bem estar da casa dos seus pais, mas ainda tem os amigos e a liberdade de sair. — Justin gargalha, ele está tentando se controlar.
— Sabe de uma coisa? Eu estava enganado quando pensei que isso tudo pudesse dar certo. — suas mãos se separam e ele encara meus olhos profundamente. Não estamos tão distantes, talvez um metro nos separasse. A noite está em evidencia, a conversa parece não ter fim. — Esse casamento... Tudo isso... Estou odiando toda essa situação.
— Eu pedi para que você não me abandonasse, mas eu nunca pedi para que você se casasse comigo, para depois me odiar por isso.   
— Odeio tudo isso, Selena. Odeio o que minha vida se tornou e odeio mais ainda o fato de ter dormido com você naquela noite.
É exatamente nessa hora que eu choro, começando a ver seu rosto como um borrão por cima das minhas lágrimas. 

"Tanta perguntas, mas agora não quero mais saber o porquê. Então, dessa vez, eu não vou nem tentar". — Hush Hush

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