10/06/2016

Capítulo 05.


Eu acordo cedo, deixando seu corpo na cama com cautela, evitando com que ela acorde com meu demasiado descuidado. No entanto, apago o abajur, pois a claridade da manhã já está evidente. Fecho as janelas que dormiram abertas, mas ainda sim, sinto o frio cobrir minha pele. Então, ouço sua voz soar perante o quarto:
— Você já está indo? — olho para trás e balanço a cabeça. — E chegará quando?
— Provavelmente bem mais tarde. Eu tenho que ir à oficina hoje. — Selena se senta sobre a cama e encosta suas costas na cabeceira amarronzada.
— Eu vou pedir para entregarem seu almoço, tudo bem?
— Sem precisão. Eu dou um jeito hoje.
— Você tem certeza? — pergunto após pegar uma calça jeans de lavagem negra, uma camiseta vermelha e minha jaqueta preta. — Deveria ir à aula, Selena.
— Não quero que falem sobre mim. — ela diz manhosa, puxando o cobertor e tampando seu rosto. Rio, porque acho isso fofo. — Aliás, ficarei bem sozinha.
— Qualquer coisa você me liga. — ela assente com a cabeça e eu sigo para fora do quarto, indo em direção ao banheiro.
Durante o banho, penso bem no que ouvi de Hailey na noite anterior. Eu queria escolhê-la, mas não podia, não quando isso faz com que eu tenha que deixar Selena sozinha. Eu novamente pensei e me questionei: que merda tenho feito? As coisas deveriam estar correndo em linha reta, da forma como projetei tudo.
Quando eu volto para o quarto, vejo Selena de pé, escolhendo uma roupa em frente à cômoda branca. Com o barulho dos meus passos, a garota vira seu rosto a noventa graus e sorri gentilmente.
— Eu decidi ir. Talvez seja melhor que estar sozinha à manhã e à tarde toda.
— Tudo bem. Se arrume e desça. — eu digo sem demonstrar muita ação ou feição.
Desço as escadas correndo e vou à cozinha, pegando duas canecas dentro de um dos armários e despejando leite. O telefone toca e eu não penso em atendê-lo, mas acabo arrastando meu corpo em direção ao aparelho preso sobre a parede limpa.
 Oi, filho. Está tudo bem por aí? — a voz de Pattie está tranquila e meiga.
— Ah... Sim, mãe, até agora está tudo bem. — digo sincero, ouvindo os passos de Selena ecoarem sobre a escadaria.
 E Selena? Ela está bem? Passou mal?
— Eu acho que ela está bem sim. Não se preocupe.
— Tudo bem, meu amor. Qualquer coisa você nos ligue.
— Vou tentar não ligar. — quando respondo, rio também, ouvindo minha mãe bufar. Mesmo não estando vendo-a, sei que ela acabara de rolar seus lindos olhos claros. — Eu não quero ter que precisar dele outra vez.
— Você sabe que seu pai só quer o seu bem. Ele está preocupado, porque agora ele se importa com ela.
— Não quero que ele se preocupe com a Selena. Se eu aceitei tudo isso, é porque eu irei sim cuidar dela e do filho que ela carrega.
 Jeremy a adorou, querido. Ele acha que ela é uma boa garota... Eu também acho isso. — ela ri e eu apenas vejo a garota entrar à cozinha carregando um sorriso nos lábios. — Bom, eu vou te deixar em paz, mas me ligue qualquer coisa.
— Tudo bem, mãe. — Selena recolhe uma das canecas e bebe todo o leite puro, vejo o líquido se deslizar por sua garganta e o movimento que isso gera. — Tchau. — encerro a ligação e volto com o telefone no gancho. — Você não vai comer nada?
— Não, eu não costumo comer pela manhã.
— Então, vamos. — bebo meu leite e recolho as chaves que estavam dentro de uma tigela sobre a mesa. Selena balança a cabeça e agora eu noto que sua mochila está presa em um dos seus ombros.
Saímos de casa logo em seguida, não trocamos uma palavra durante o caminho. Ela cantarolou algumas vezes, mas nada de mais. Assim que estaciono o carro, a garota desce do mesmo e me espera, não parece se importar. Eu apenas pego a mochila preta e saio do veículo, caminhando ao lado dela, não dizendo nada. Algumas pessoas me olham, hora ou outra a olham também. Então, nos separamos no momento em que eu subo para o segundo piso, indo até o terceiro ano, deixando-a no segundo.
— BIEBER! — eu rio ao ouvir a voz de Ryan gritar. — Como vai sua vida de casado? — num ato irônico, ele debruça seu braço esquerdo sobre meus ombros; nós caminhamos até a ala dos inúmeros armários.
— Sem euforia, cara, ninguém sabe sobre isso.
— Não, dude, todos sabem sobre isso. — eu arregalo meus lhos e abro o armário com raiva, jogando a mochila dentro do mesmo. — Na verdade, todo o colégio já está sabendo que você será pai.
— Você contou, porra? — pergunto irritado. Dessa vez, bato a porta do armário com força.
— Hailey contou, Justin.
— Que inferno. — xingo realmente estressado. Nós caminhamos até a sala e eu novamente reparo os olhares sobre mim, só que, dessa vez, compreendo o real motivo.
— Relaxa, irmão, isso é só um assunto novo. — jogo meu corpo sobre a cadeira e arrumo meu boné preto, encarando o reto e observando a lousa ainda limpa. — Como está sendo?
— É estranho, Ryan, isso é extremamente estranho.
— Estão se dando bem?
— Até agora está tudo bem, mas ficará assim por mais quanto tempo? Quero dizer, eu nem a conheço, nem sei como tudo isso será. Eu não sei nem como agir quando estou perto dela. Isso é tão ridículo.
— Eu não acredito que você topou isso, cara. Quero dizer, casamento é uma coisa séria. Embora não tenha sido algo grande, foi uma união.
— Nem eu acredito. Mas você conhece o meu pai e o jeito temperamental dele. — bufo e pisco fortemente. Então, Hailey adentra a sala, e o sorriso que carregava, simplesmente desaparece. — Eu só não quero ser um peso morto, entende? Eu estou cansado disso, de ter de ouvi-lo dizer que o decepciono cada vez mais.
— Por isso aceitou se casar com uma garota que não conhece? — em sua pergunta há mais sarcasmo do que qualquer outra coisa.
— É. — respondo sem entender meu tom de voz. — Era o que ele esperava de mim. Ele espera que eu cuide da Selena e do... Do meu filho. Você não entenderia.
— É, eu não entendo mesmo, mas você sabe que se precisar de ajuda, eu ainda estou aqui para você, cara.
— Eu sei disso. — rio agradecido e vejo a professora entrar na sala.

Selena Gomez POV.
08h47min AM. 
Ao encarar meu rosto pelo reflexo do espelho, noto como eu estou presa no banheiro feminino há tanto tempo, com medo de encarar todos a minha volta, tendo em mente que absolutamente todo mundo sabe sobre mim. Isso me faz ter uma nova percepção sobre tudo, no entanto, eu apenas acaricio minha barriga que começara a crescer, mas que ainda não está notável.
Eu pude ver os olhares esquisitos serem direcionados a mim no segundo em que coloquei meus pés para dentro da classe de história. No mesmo minuto, deixei meus livros caírem de minhas mãos trêmulas. Todos, de repente, riram. Eu senti o inchaço alcançar minha garganta, mas eu não chorei.
Então, respirando fundo e implorando a mim mesma, vejo a porta de uma das cabines serem abertas. Seus olhos claros me fitam por dez segundos. Hailey... Então, Kendall adentra o banheiro e agora nós três estamos no mesmo ambiente. Eu sempre soube que ambas eram amigas. Isso faz com que eu me sinta pequena.
— Selena, não é mesmo? — a voz rala da loira questiona. A morena alta está ao meu lado, ela não tenta ser discreta, me encara fixamente, parando seu corpo perto da pia, cruzando os braços e selando um sorriso ameaçador em seus lábios rosados. — Você por um acaso sabe falar? 
— Sim! — eu respondo normalmente, todavia, dou dois passos para trás e tento sair, porém sua mão fina vai de encontro ao meu pulso e eu sou puxada bruscamente. Meu corpo se move para frente e, posteriormente para trás. Dessa vez eu me sinto fraca, pois tenho em mente que não teremos uma conversa boa. Eu nunca havia ficado tão perto dela antes.
— Aonde você vai?
— Por favor, me solte. — peço baixinho, encarando meus pés cobertos por uma sapatilha escura. — Me deixe ir embora.
— Ah, eu não poderia perder essa oportunidade. — engulo o seco e ouço Kendall soltar uma risada. Logo mais, a morena caminha até a porta do banheiro e a tranca rapidamente. — Então, você realmente está grávida? Ou isso tudo é fingimento para ter que ficar com meu namorado? — eu não a respondo, ela sabe que não menti hora alguma. — Sabe o que eu acho? Que você fez tudo isso de propósito.
— Eu não. — digo um pouco alto; isso a faz dar dois passos, se aproximando um pouco mais de mim.
— Legal, mas escute bem o que eu vou te dizer, vadiazinha. — meus olhos diminuem ao ouvir seu insulto, eu não sei como me defender, eu nunca passei por isso antes. — Não ache que ficará com ele depois desse feto nascer... Porque na primeira oportunidade, ele vai largar você e essa criança, sabe por quê? Porque é de mim que ele gosta. Sempre foi assim e sempre será.
Suas duas mãos empurram meu corpo e o dela se dirige até a porta. Kendall destranca a mesma e, agora, eu posso vê-las me deixar sozinha, finalmente.
Caminho lentamente, sentindo o frio se intensificar. Minhas mãos seguram firmemente a mochila surrada. Eu vou de encontro à quadra do lado de fora do colégio. Após jogar a mochila no banco e me sentar na última fileira da arquibancada, vejo Taylor se alongar com algumas garotas, entre elas, Jennifer e Amanda. Ambas riem ao encararem o alto e me avistarem aconchegada, abraçando minhas pernas.
Diana estica sua mão e me chama com um só aceno. Eu quero negar, mas não encontro oportunidade, a morena vira seu rosto e dialoga com Kristen, uma das garotas mais inteligentes do segundo ano.
Desço cada uma das arquibancadas até alcançar o gramado seco, não me importo de ter deixado a mochila um pouco distante.
Após parar meu corpo à frente da morena, ela me encara e massageia seus lábios grossos. Então, de repente pergunta:
— Por que não está se alongando para jogar com as garotas, Selena? — a fala equivocada gruda em minha garganta e eu não sei como dizer mais nada. Ficamos em silêncio por quase dois minutos, porém a mulher indaga e cruza os braços.
— Porque eu estou grávida. — assim que respondo, ouço algumas risadas serem manifestadas. Encaro ao meu redor, isso me deixa vulnerável.
Diana respira fundo e me lança um sorriso reconfortante. Em uma voz carinhosa, fala:
— Tudo bem, Selena. Você pode assistir à aula hoje, mas terá que me entregar um relatório mais tarde. — abalanço a cabeça e me viro, caminhando rapidamente na intenção de voltar ao lugar de onde saí.
Durante o caminho, posso ouvir algumas garotas rirem e perguntarem debochadamente: “isso é uma boa desculpa para poder roubar o namorado da Hailey”, “isso se for do Bieber mesmo”.
Enrugo meu rosto e sinto o choro querer escapulir dos meus olhos outra vez.
No momento em que decidi voltar ao colégio, sabia que algo sobre isso pudesse acontecer, mas eu não pensei que seria tão cedo ou que me afetaria da forma como tem acontecido.
Recolho minha mochila do banco e simplesmente vou para longe. Agora eu desejo ir para casa.
(...)
Estou com minhas costas apoiadas em seu carro luxuoso. Justin vem com Ryan, eles estão rindo, mas não me viram ainda. Volto a olhar para meus pés cruzados, sentindo o sol tocar meu rosto. Não está tão frio quanto antes, talvez isso fosse causa da bipolaridade mental que correu em mim essa manhã.
Então, eu desvio meu olhar e vejo Justin se despedir de Ryan, que me olha e nega com a cabeça ainda rindo. De repente, se separam e ambos trajam um caminho diferente. Justin vem em minha direção, não está sorrindo mais, mas não parece irritado. Na verdade, não sei se tem algum tipo de expressão facial.
Quando a distancia acaba, ele pergunta:
— Está com fome?
— Sim. — eu respondo normalmente. Ele dá a volta, desarma o carro e entra no mesmo, esperando com que eu faça o mesmo. — Você vai almoçar comigo?
— Não, eu tenho que chegar à oficina em meia hora. Até eu deixá-la em casa, almoçar e voltar, não dará tempo.
— Eu posso ir andado, se for um problema. — estou sendo sincera.
— Não é, só não dará para almoçarmos juntos. — Justin liga o carro e, de repente, saímos do estacionamento do colégio. Permaneço em silencio, encarando minhas mãos juntas. — Foi tão ruim assim? — quando pergunta, o loiro solta uma risada engraçada. Talvez pensasse que eu fosse negar, porém faço o inverso.
— Foi. — sibilo alto. — Ela mexeu comigo.
— Ela? — questiona realmente confuso.
 Hailey... Ela mexeu comigo essa manhã.
Justin não responde, ele parece não acreditar. Mas, apesar de a minha voz ter sido cercada por firmeza, não recebo nenhuma resposta dele, nem ao mesmo um som audível. Nada.
Assim que o carro para, eu engulo o seco e abro a porta do veículo. Justin pigarreia e me faz olhá-lo por algum tempo. Então, simplesmente fala:
— Se precisar de alguma coisa, é só me ligar. — concordo com a cabeça e saio literalmente do carro, fechando a porta com delicadeza. Seu corpo se abaixa um pouco. — Tem certeza que não quer que eu peça para te entregarem o almoço?
— Não precisa, obrigada.
Viro meu corpo e caminho em direção a nossa casa. Antes de conseguir chegar até a porta, ouço o barulho da porta do carro se debater; ele desceu, não preciso virar meu rosto para ter essa certeza. A confirmação fica evidente quando sua mão grossa puxa meu braço e meu corpo é virado com rapidez.
— O que aconteceu? — ao ouvir sua pergunta, eu finalmente choro. Eu choro de verdade, choro de soluçar, sem vergonha alguma.
— Por que me trata tão bem se pretende me deixar? — ele arregala seus olhos, porém nada diz. — Por favor, não me deixe. — com impulso, eu o abraço e rodo meus braços em seu pescoço, deixando meu rosto ser enterrado em seu ombro esquerdo. — Eu só tenho você agora... Eu me sinto horrível, sinto como se todo mundo estivesse tendo uma vida perfeita, mas eu não.   


“Foi então que eu percebi que sempre esteve em seus olhos o momento em que eu vi você chorar.”Cry

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