Eu
acordo cedo, deixando seu corpo na cama com cautela, evitando com que ela
acorde com meu demasiado descuidado. No entanto, apago o abajur, pois a
claridade da manhã já está evidente. Fecho as janelas que dormiram abertas, mas
ainda sim, sinto o frio cobrir minha pele. Então, ouço sua voz soar perante o
quarto:
—
Você já está indo? — olho para trás e balanço a cabeça. — E chegará quando?
—
Provavelmente bem mais tarde. Eu tenho que ir à oficina hoje. — Selena se senta
sobre a cama e encosta suas costas na cabeceira amarronzada.
—
Eu vou pedir para entregarem seu almoço, tudo bem?
—
Sem precisão. Eu dou um jeito hoje.
—
Você tem certeza? — pergunto após pegar uma calça jeans de lavagem negra, uma
camiseta vermelha e minha jaqueta preta. — Deveria ir à aula, Selena.
—
Não quero que falem sobre mim. — ela diz manhosa, puxando o cobertor e tampando
seu rosto. Rio, porque acho isso fofo. — Aliás, ficarei bem sozinha.
—
Qualquer coisa você me liga. — ela assente com a cabeça e eu sigo para fora do
quarto, indo em direção ao banheiro.
Durante
o banho, penso bem no que ouvi de Hailey na noite anterior. Eu queria
escolhê-la, mas não podia, não quando isso faz com que eu tenha que deixar
Selena sozinha. Eu novamente pensei e me questionei: que merda tenho feito? As
coisas deveriam estar correndo em linha reta, da forma como projetei tudo.
Quando
eu volto para o quarto, vejo Selena de pé, escolhendo uma roupa em frente à
cômoda branca. Com o barulho dos meus passos, a garota vira seu rosto a noventa
graus e sorri gentilmente.
—
Eu decidi ir. Talvez seja melhor que estar sozinha à manhã e à tarde toda.
—
Tudo bem. Se arrume e desça. — eu digo sem demonstrar muita ação ou feição.
Desço
as escadas correndo e vou à cozinha, pegando duas canecas dentro de um dos
armários e despejando leite. O telefone toca e eu não penso em atendê-lo, mas
acabo arrastando meu corpo em direção ao aparelho preso sobre a parede limpa.
— Oi, filho. Está tudo bem por aí? — a voz de Pattie está tranquila e
meiga.
—
Ah... Sim, mãe, até agora está tudo bem. — digo sincero, ouvindo os passos de
Selena ecoarem sobre a escadaria.
— E Selena? Ela está bem? Passou
mal?
—
Eu acho que ela está bem sim. Não se preocupe.
— Tudo bem, meu amor.
Qualquer coisa você nos ligue.
—
Vou tentar não ligar. — quando respondo, rio também, ouvindo minha mãe bufar.
Mesmo não estando vendo-a, sei que ela acabara de rolar seus lindos olhos
claros. — Eu não quero ter que precisar dele outra vez.
— Você sabe que seu pai só
quer o seu bem. Ele está preocupado, porque agora ele se importa com ela.
—
Não quero que ele se preocupe com a Selena. Se eu aceitei tudo isso, é porque
eu irei sim cuidar dela e do filho que ela carrega.
— Jeremy a adorou, querido. Ele acha
que ela é uma boa garota... Eu também acho isso. — ela ri e eu
apenas vejo a garota entrar à cozinha carregando um sorriso nos lábios. — Bom, eu vou te deixar em paz,
mas me ligue qualquer coisa.
—
Tudo bem, mãe. — Selena recolhe uma das canecas e bebe todo o leite puro, vejo
o líquido se deslizar por sua garganta e o movimento que isso gera. — Tchau. —
encerro a ligação e volto com o telefone no gancho. — Você não vai comer nada?
—
Não, eu não costumo comer pela manhã.
—
Então, vamos. — bebo meu leite e recolho as chaves que estavam dentro de uma
tigela sobre a mesa. Selena balança a cabeça e agora eu noto que sua mochila
está presa em um dos seus ombros.
Saímos
de casa logo em seguida, não trocamos uma palavra durante o caminho. Ela
cantarolou algumas vezes, mas nada de mais. Assim que estaciono o carro, a
garota desce do mesmo e me espera, não parece se importar. Eu apenas pego a
mochila preta e saio do veículo, caminhando ao lado dela, não dizendo nada.
Algumas pessoas me olham, hora ou outra a olham também. Então, nos separamos no
momento em que eu subo para o segundo piso, indo até o terceiro ano, deixando-a
no segundo.
—
BIEBER! — eu rio ao ouvir a voz de Ryan gritar. — Como vai sua vida de casado?
— num ato irônico, ele debruça seu braço esquerdo sobre meus ombros; nós
caminhamos até a ala dos inúmeros armários.
— Sem
euforia, cara, ninguém sabe sobre isso.
—
Não, dude, todos sabem sobre isso. — eu arregalo meus lhos e abro o armário com
raiva, jogando a mochila dentro do mesmo. — Na verdade, todo o colégio já está
sabendo que você será pai.
—
Você contou, porra? — pergunto irritado. Dessa vez, bato a porta do armário com
força.
—
Hailey contou, Justin.
—
Que inferno. — xingo realmente estressado. Nós caminhamos até a sala e eu
novamente reparo os olhares sobre mim, só que, dessa vez, compreendo o real
motivo.
—
Relaxa, irmão, isso é só um assunto novo. — jogo meu corpo sobre a cadeira e
arrumo meu boné preto, encarando o reto e observando a lousa ainda limpa. —
Como está sendo?
— É
estranho, Ryan, isso é extremamente estranho.
—
Estão se dando bem?
—
Até agora está tudo bem, mas ficará assim por mais quanto tempo? Quero dizer,
eu nem a conheço, nem sei como tudo isso será. Eu não sei nem como agir quando
estou perto dela. Isso é tão ridículo.
—
Eu não acredito que você topou isso, cara. Quero dizer, casamento é uma coisa
séria. Embora não tenha sido algo grande, foi uma união.
—
Nem eu acredito. Mas você conhece o meu pai e o jeito temperamental dele. —
bufo e pisco fortemente. Então, Hailey adentra a sala, e o sorriso que
carregava, simplesmente desaparece. — Eu só não quero ser um peso morto,
entende? Eu estou cansado disso, de ter de ouvi-lo dizer que o decepciono cada
vez mais.
—
Por isso aceitou se casar com uma garota que não conhece? — em sua pergunta há
mais sarcasmo do que qualquer outra coisa.
—
É. — respondo sem entender meu tom de voz. — Era o que ele esperava de mim. Ele
espera que eu cuide da Selena e do... Do meu filho. Você não entenderia.
—
É, eu não entendo mesmo, mas você sabe que se precisar de ajuda, eu ainda estou
aqui para você, cara.
—
Eu sei disso. — rio agradecido e vejo a professora entrar na sala.
Selena Gomez POV.
08h47min AM.
Ao
encarar meu rosto pelo reflexo do espelho, noto como eu estou presa no banheiro
feminino há tanto tempo, com medo de encarar todos a minha volta, tendo em
mente que absolutamente todo mundo sabe sobre mim. Isso me faz ter uma nova
percepção sobre tudo, no entanto, eu apenas acaricio minha barriga que começara
a crescer, mas que ainda não está notável.
Eu
pude ver os olhares esquisitos serem direcionados a mim no segundo em que
coloquei meus pés para dentro da classe de história. No mesmo minuto, deixei
meus livros caírem de minhas mãos trêmulas. Todos, de repente, riram. Eu senti
o inchaço alcançar minha garganta, mas eu não chorei.
Então,
respirando fundo e implorando a mim mesma, vejo a porta de uma das cabines
serem abertas. Seus olhos claros me fitam por dez segundos. Hailey... Então,
Kendall adentra o banheiro e agora nós três estamos no mesmo ambiente. Eu
sempre soube que ambas eram amigas. Isso faz com que eu me sinta pequena.
—
Selena, não é mesmo? — a voz rala da loira questiona. A morena alta está ao meu
lado, ela não tenta ser discreta, me encara fixamente, parando seu corpo perto
da pia, cruzando os braços e selando um sorriso ameaçador em seus lábios
rosados. — Você por um acaso sabe falar?
—
Sim! — eu respondo normalmente, todavia, dou dois passos para trás e tento
sair, porém sua mão fina vai de encontro ao meu pulso e eu sou puxada
bruscamente. Meu corpo se move para frente e, posteriormente para trás. Dessa
vez eu me sinto fraca, pois tenho em mente que não teremos uma conversa boa. Eu
nunca havia ficado tão perto dela antes.
—
Aonde você vai?
—
Por favor, me solte. — peço baixinho, encarando meus pés cobertos por uma
sapatilha escura. — Me deixe ir embora.
—
Ah, eu não poderia perder essa oportunidade. — engulo o seco e ouço Kendall
soltar uma risada. Logo mais, a morena caminha até a porta do banheiro e a
tranca rapidamente. — Então, você realmente está grávida? Ou isso tudo é
fingimento para ter que ficar com meu namorado? — eu não a respondo, ela sabe
que não menti hora alguma. — Sabe o que eu acho? Que você fez tudo isso de
propósito.
—
Eu não. — digo um pouco alto; isso a faz dar dois passos, se aproximando um
pouco mais de mim.
—
Legal, mas escute bem o que eu vou te dizer, vadiazinha. — meus olhos diminuem
ao ouvir seu insulto, eu não sei como me defender, eu nunca passei por isso
antes. — Não ache que ficará com ele depois desse feto nascer... Porque na
primeira oportunidade, ele vai largar você e essa criança, sabe por quê? Porque
é de mim que ele gosta. Sempre foi assim e sempre será.
Suas
duas mãos empurram meu corpo e o dela se dirige até a porta. Kendall destranca
a mesma e, agora, eu posso vê-las me deixar sozinha, finalmente.
Caminho
lentamente, sentindo o frio se intensificar. Minhas mãos seguram firmemente a
mochila surrada. Eu vou de encontro à quadra do lado de fora do colégio. Após
jogar a mochila no banco e me sentar na última fileira da arquibancada, vejo
Taylor se alongar com algumas garotas, entre elas, Jennifer e Amanda. Ambas
riem ao encararem o alto e me avistarem aconchegada, abraçando minhas pernas.
Diana
estica sua mão e me chama com um só aceno. Eu quero negar, mas não encontro
oportunidade, a morena vira seu rosto e dialoga com Kristen, uma das garotas
mais inteligentes do segundo ano.
Desço
cada uma das arquibancadas até alcançar o gramado seco, não me importo de ter
deixado a mochila um pouco distante.
Após
parar meu corpo à frente da morena, ela me encara e massageia seus lábios
grossos. Então, de repente pergunta:
—
Por que não está se alongando para jogar com as garotas, Selena? — a fala
equivocada gruda em minha garganta e eu não sei como dizer mais nada. Ficamos
em silêncio por quase dois minutos, porém a mulher indaga e cruza os braços.
—
Porque eu estou grávida. — assim que respondo, ouço algumas risadas serem
manifestadas. Encaro ao meu redor, isso me deixa vulnerável.
Diana
respira fundo e me lança um sorriso reconfortante. Em uma voz carinhosa, fala:
—
Tudo bem, Selena. Você pode assistir à aula hoje, mas terá que me entregar um
relatório mais tarde. — abalanço a cabeça e me viro, caminhando rapidamente na
intenção de voltar ao lugar de onde saí.
Durante
o caminho, posso ouvir algumas garotas rirem e perguntarem debochadamente:
“isso é uma boa desculpa para poder roubar o namorado da Hailey”, “isso se for
do Bieber mesmo”.
Enrugo
meu rosto e sinto o choro querer escapulir dos meus olhos outra vez.
No
momento em que decidi voltar ao colégio, sabia que algo sobre isso pudesse
acontecer, mas eu não pensei que seria tão cedo ou que me afetaria da forma
como tem acontecido.
Recolho
minha mochila do banco e simplesmente vou para longe. Agora eu desejo ir para
casa.
(...)
Estou
com minhas costas apoiadas em seu carro luxuoso. Justin vem com Ryan, eles
estão rindo, mas não me viram ainda. Volto a olhar para meus pés cruzados,
sentindo o sol tocar meu rosto. Não está tão frio quanto antes, talvez isso
fosse causa da bipolaridade mental que correu em mim essa manhã.
Então,
eu desvio meu olhar e vejo Justin se despedir de Ryan, que me olha e nega com a
cabeça ainda rindo. De repente, se separam e ambos trajam um caminho diferente.
Justin vem em minha direção, não está sorrindo mais, mas não parece irritado.
Na verdade, não sei se tem algum tipo de expressão facial.
Quando
a distancia acaba, ele pergunta:
—
Está com fome?
—
Sim. — eu respondo normalmente. Ele dá a volta, desarma o carro e entra no
mesmo, esperando com que eu faça o mesmo. — Você vai almoçar comigo?
—
Não, eu tenho que chegar à oficina em meia hora. Até eu deixá-la em casa,
almoçar e voltar, não dará tempo.
—
Eu posso ir andado, se for um problema. — estou sendo sincera.
—
Não é, só não dará para almoçarmos juntos. — Justin liga o carro e, de repente,
saímos do estacionamento do colégio. Permaneço em silencio, encarando minhas
mãos juntas. — Foi tão ruim assim? — quando pergunta, o loiro solta uma risada
engraçada. Talvez pensasse que eu fosse negar, porém faço o inverso.
—
Foi. — sibilo alto. — Ela mexeu comigo.
—
Ela? — questiona realmente confuso.
— Hailey... Ela mexeu comigo essa manhã.
Justin
não responde, ele parece não acreditar. Mas, apesar de a minha voz ter sido
cercada por firmeza, não recebo nenhuma resposta dele, nem ao mesmo um som
audível. Nada.
Assim
que o carro para, eu engulo o seco e abro a porta do veículo. Justin pigarreia
e me faz olhá-lo por algum tempo. Então, simplesmente fala:
—
Se precisar de alguma coisa, é só me ligar. — concordo com a cabeça e saio
literalmente do carro, fechando a porta com delicadeza. Seu corpo se abaixa um
pouco. — Tem certeza que não quer que eu peça para te entregarem o almoço?
—
Não precisa, obrigada.
Viro
meu corpo e caminho em direção a nossa casa. Antes de conseguir chegar até a
porta, ouço o barulho da porta do carro se debater; ele desceu, não preciso
virar meu rosto para ter essa certeza. A confirmação fica evidente quando sua
mão grossa puxa meu braço e meu corpo é virado com rapidez.
— O
que aconteceu? — ao ouvir sua pergunta, eu finalmente choro. Eu choro de verdade,
choro de soluçar, sem vergonha alguma.
— Por que me trata tão bem se pretende
me deixar? — ele arregala seus olhos, porém nada diz. — Por
favor, não me deixe. —
com impulso, eu o abraço e rodo meus braços em seu pescoço, deixando meu rosto
ser enterrado em seu ombro esquerdo. — Eu só tenho você agora... Eu me sinto
horrível, sinto como se todo mundo estivesse tendo uma vida perfeita, mas eu
não.
“Foi então que eu percebi que sempre esteve em seus olhos o momento em que eu vi você chorar.” — Cry
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