10/06/2016

Capítulo 10.



Às vezes, eu o olho, mas sua atenção está presa na estrada movimentada. O restante do dia está sendo frio, estamos na época mais úmida do ano. Posso ouvir as risadas de Selena e Pattie no banco de trás do carro preto. Elas conversam sobre o bebê, eu quero me intrometer na conversa, de verdade, mas não o faço, continuo encarando a janela ao meu lado, que acabara de receber golpeadas das gotículas da chuva que começara a se protestar.
Selena desce do carro depois de se despedir do meu pai. Logo corre para dentro da nossa casa, tampa seus cabelos com os dois braços. Pattie a xinga por estar correndo mesmo sabendo que não pode fazer certo ato.
Eu olho para os olhos claros da minha mãe, vejo seu sorrio se curvar e a linha invisível aparecer diante suas bochechas. Então ela desce do automóvel e eu faço o mesmo, sem mesmo dizer uma palavra ao homem sério ao meu lado. Ele também não parece fazer questão de começar um assunto, isso seria repetitivo. Ambos estamos cansados de tamanha ladainha.
Fecho a porta com delicadeza e vou de encontro à cozinha, logo vendo Pattie preparar algo. Selena está ao seu lado, ela parece prestar bastante atenção no que a mulher está preparando.
— O que fazem? — pergunto humorado, me sentando sobre a bancada de mármore.
— Estou preparando algo para vocês dois. — mamãe responde e me olha de lado. Ainda está sorrindo e isso me deixa feliz. — Eu vejo que andam comendo muita besteira.
— Eu realmente tento. — a morena responde e se senta ao meu lado, logo sinto seus braços rodearem meu pescoço. É meiga a forma como ela é sempre a primeira a tomar iniciativa entre nós dois. — Como você está? — sua pergunta flui em um sussurro. Eu a olho de lado e balanço a cabeça, me limitando a dizer um simples: “estou ótimo”. — Que sério. — Selena sorri e eu faço mesmo. Acho sua voz muito linda. É algo quase nasal, porém soa tão bem.
— Você quer que seja o quê? — pergunto.
— Nosso bebê? — quando pergunta, balanço a cabeça como forma de positividade. — Eu não tenho preferência. Você tem? — me sinto envergonhado por desejar um garotinho, mas acabo respondendo:
— Um garoto.
— Mas se for uma garota?
— Não terá problema algum. — respondo sincero. — Mas, bom, espero que tenha os seus olhos. — a garota arregala suas duas íris e, assim, faz o mesmo com a boca inchada, seus lábios estão desenhados por um batom rosa, têm cheiro de cereja.
— Mas os seus olhos são tão mais lindos! — sem vergonha, ela me responde. Eu nego.
— Não me importarei se nascer exatamente como você é. Cabelos e olhos escuros. — passo meus dedos da mão esquerda em cada fio ondulado de seus cabelos um pouco úmidos. Mesmo sem observar Pattie, eu sei ou tenho uma pequena ideia de que ela esteja prestando bastante atenção em nossa conversa.
— Não, eu quero que seja exatamente como você. — a garota responde em um tom meigo, agora ela parece acanhada. Talvez seja pelo fato de ter minha mãe como público.
— Não importa a cor dos olhos, o importante é o bebê nascer saudável. — dessa vez Pattie se intromete na conversa. Busco seu corpo com os olhos e noto que ela mistura algo em uma panela funda.
— Tá, mas eu quero que ele seja bonito. — rio. — Quero dizer, se esse bebê nascer feio, ele não é filho da Selena e nem meu. Quero dizer, ela é linda e eu sou ainda mais. Esse bebê precisa vir perfeito, não acha? Ou vamos deixá-lo na fraternidade e fazer outro.
— Oh! — minha mãe me olha no mesmo segundo, planta uma expressão reprovadora.
— Estou brincando, Sra. Pattie. — ela não ri, mas Selena sim.
— É melhor que esteja mesmo. — seu tom ainda é bravo. Santa falta de humor. — Aliás, sábado vocês dois têm um compromisso. — eu e Selena nos entreolhamos e, logo depois, encaramos a mulher parada à frente do fogão. — Eu os cadastrei no curso da Georg... Para que vocês aprendam a cuidar de uma criança.
— Você está de brincadeira, né? — pergunto, já sei do que se trata. — Não precisamos disso, mãe. Nós nos viramos.
— Não, eu não vou correr esse risco. Vocês não sabem nem ao menos fritar um ovo, imagine trocar a fralda de uma criança recém-nascida.
— Eu acho legal. — diz Selena. Será que ela não vê negatividade nas coisas? — Vai ser bom aprendermos a cuidar do nosso bebê.
 — Isso é ridículo. — resmungo. — Eu vou indo. Tenho que trabalhar. — pulo da bancada e beijo a bochecha de Pattie. Atravesso a cozinha e recolho as chaves do meu carro que estavam sobre a mesinha central da sala, ela permanece entre o sofá e a estante.
Assim que cravo minha mão na maçaneta dourada, ouço Selena chamar pelo meu nome. Giro meu rosto e vejo seu corpo caminhar em minha direção. Ela sorri e, rapidamente, se põe nas pontas dos pés.
Sinto seus lábios delicados tocarem os meus. Selena sorri entre o beijo, isso faz os músculos de seu rosto se contrair. Parece apaixonada por mim.
— Vou sentir sua falta, Justin. — ela sussurra após cortar o beijo. Eu sorrio de lado e colo meus lábios em sua testa.
— Até mais tarde. — respondo meigo, nada mais do que ela merece.
Então eu vou, eu a deixo sorrindo enquanto me observa adentrar o carro e sumir de suas vistas.

Selena Gomez POV.
Horas mais tarde
Ela me olha firmemente, não pode recuar, simplesmente nota a expressão surpresa que rebato a sua. Talvez ela queira começar um assunto, eu não. Só que, surpreendentemente, afasto um pouco meu corpo e deixo Taylor adentrar minha casa. Pattie havia ido embora há horas.
Após eu assisti-la observar cada lado do lugar, resmungo um pouco e a loira volta a me encarar. Dessa vez, por alguma razão desconhecida, ela sorri, não é sarcástica, porém eu não gosto da forma como ela acha que pode me tratar assim.
— Sua casa é linda. — diz baixo, totalmente sincera. — Sua mãe me passou o endereço.
— Ah, sim, mas por quê? — pergunto curiosa. — Quero dizer, qual o motivo que te trouxe aqui?
— Eu queria conversar com você.
— Já estamos conversando.
— É... — Taylor bufa baixinho, eu estou ocupada demais me sentindo mais do que deveria sentir. — Me desculpa por ter te abandonado, Selena. Eu fui uma idiota por ter deixado a hipocrisia ser maior do que a nossa amizade. Você sempre foi importante para mim.
— Eu agradeço por você ter pedido ajuda ao Justin, eu realmente me sinto grata, mas isso não muda o simples fato de você ter me julgado como todas as outras pessoas. — ela encara meus olhos profundamente, não posso cortar esse inusitado contato visual. — E eu te desculpo, de verdade, você sabe que nunca guardo mágoa de nada e nem de ninguém, mas isso também não muda aquele simples fato. — Taylor assente com a cabeça, só que espera com que eu continue. Não entendo por quê. — Justin foi a única pessoa que ficou ao meu lado, mesmo quando ele não queria. E eu não vou mais ficar me sentindo tão mal pelas coisas que as pessoas falam ou pensam sobre mim.
— Fico feliz por isso. — ela sorri, parece ser sincera nisso também. — Ele parece fazer bem a você. — afirmo sua frase sorrindo. Ele me faz bem, tão bem quanto meu sorvete favorito. — Então eu vou nessa.
Assim penso em responder, ouço a porta ranger seu barulho estranho quando se é aberta. O corpo de Justin aparece e preenche nossas vistas. Taylor, sem mais se manifestar, sorri de lado e caminha até a saída, indo embora logo em seguida. Justin fecha a porta e joga sua mochila ao chão, retirando, também, o casaco cinza que cobria seus braços tatuados.
Faço uma careta e apoio as duas palmas sobre a barriga. Ele arregala seus olhos e questiona:
— Está se sentindo mal?
— Oh, não. — rio baixinho. — Ele só está se mexendo.
— Ele já mexe? — sua voz soa tão bem, isso me faz apenas concordar com a cabeça e perguntar logo em seguida:
— Você quer sentir?
— Posso?
— Claro! — respondo óbvia. O loiro se arrasta, cruza o sofá e para em minha frente, apoiando suas mãos em minha barriga tampada pela blusa branca. Ela já está grande, não muito, mas bem notável. De repente, Justin se assusta e solta um grunhido alto, parece se sentir surpreendido por ter sentindo o movimento brusco que o bebê acabara de fazer por dentro do meu corpo.
— Isso é um máximo. — ele sussurra baixinho, espalhando suas mãos em minha barriga, seguindo os movimentos ágeis que prevalecem em mim. — Não te machuca?
— Não, ele nunca me machuca. — rio baixinho, olhando Justin se agachar até tocar os dois joelhos sobre o chão. — Como podemos chamá-lo?
— Não sei. — ele responde ainda encarando minha barriga, logo solta um grito estranho ao sentir o bebê chutar fortemente o local onde sua mão esquerda está apoiada. — Eu pensei em Luke, caso seja garoto.
— Ah, não. — digo séria. Justin me olha por baixo e se levanta rapidamente. — Eu não gosto desse nome. Prefiro Noah.
— Nem pensar. — quando ele responde, eu bato em seu ombro esquerdo e arrebito o nariz. — E que tal Caleb?
— Também não.
— E Logan?
— É bonitinho, mas também não.
— Você não gosta de nenhum. — sua voz sai coberta por malícia. Olho profundamente em seus olhos e sinto Justin aproximar seu corpo, logo ele rodeia suas mãos em minha cintura. — Se for garota, com certeza se chamará Alasca.
— Nossa, claro que não, é nome de um estado. — Justin gargalha, eu beijo seu pescoço. — Mia é bem mais fofo.
— Não vamos chegar a lugar algum com isso. — assim que responde, balanço a cabeça e nos oriento a subir até o segundo andar. A cama está arrumada, eu apenas tiro meus chinelos e me sento ao lado que costumo dormir. Justin arranca sua camisa branca e eu vejo suas costas de uma maneira curvada. Consigo notar a barra de sua cueca totalmente em evidencia. — Qual é a pergunta de hoje?
— Você pensa em mim quando não estamos juntos?
— Acho que penso. — ele responde sem demorar um segundo. — Você sabe que me preocupo com você.
— A pergunta não foi nesse sentido.  — enrugo um pouco meu rosto e me deito completamente na cama.
— E foi em qual sentido? — sinto ele se jogar ao meu lado, está apenas com sua calça jeans preta.
— Você pensa em mim como mulher?
— Não entendi. — Justin gargalha. — Você é uma mulher, então eu acho que sim. Ou não foi nesse sentido, também?
Me levanto um pouco e subo em seu corpo deitado na cama. Sua expressão, que antes era engraçada, se converte a algo assustado. Talvez ele não esperasse isso, não agora.
— Eu estou falando de sexo. — explico.
— Sério? — ele ri alto, parando suas mãos em minha cintura. — Ouça... — o loiro não consegue completar, acaba rindo outra vez. — Eu não sei aonde você quer chegar com isso, eu realmente não estou entendo sua pergunta.
— E eu não sei ser mais direta do que isso. — rolo meus olhos e me jogo novamente ao lado que sempre durmo. Justin gira seu rosto e nós nos olhamos.
— Você está querendo saber se você me atrai sexualmente? — Justin ainda está rindo.
— Agora eu estou envergonhada. — confesso. Tampo meu rosto com minhas duas mãos, porém dura por pouco tempo, já que ele se levanta um pouco e recolhe minhas mãos, fazendo-me encará-lo.
— Ei, relaxe, você é linda. Se não fosse, eu não teria me interessado por vocênaquela noite. — balanço a cabeça, dobro meus lábios e respiro fundo. Justin beija meu pescoço e eu arfo baixinho, sentindo sua boca deslizar-se até minha barriga. Seus dedos sobem minha blusa até deixar a barra tocar meus seios. Ele quer apenas observar minha barriga oval. Sei disso, pois logo suas mãos param sobre minha pele mais alta. Então, sua boca percorre um caminho longo até se encontrar ao local que suas mãos estão. — Eu quero te pedir uma coisa.
— Tudo bem.
— Eu não quero mais que você mantenha tanto contato com meus pais.
— O quê? Por quê? Eles são tão gentis. — Justin beija a ponta da minha barriga, a parte mais alta. Eu observo tudo, esperando uma resposta que esclareça minhas duas perguntas. Eu adoro seus pais.
— Porque não, ok? Amanhã você irá ir ao médico com minha mãe, mas depois disso, evite. Estou te pedindo.
— Não entendo por quê.
— Porque eu não quero depender deles para sempre. Entre nós dois, precisa haver apenas nós dois e ninguém mais.
— Tudo bem. — respondo receosa, encarando os lados e sentindo seu corpo sair de cima do meu.
— Aliás, ganhamos um presentinho hoje. Devido àquela palhaça que houve essa manhã, eu me esqueci de mostrá-la. — observo Justin correr para o primeiro andar, mas em questão de segundos, volta novamente ao quarto, porém dessa vez, carrega sua mochila. — Até que eles têm um bom gosto, não acha? — pergunta, mas eu o espero retirar algo da mochila. Depois de fazê-lo, sorrio animada e me sento completamente. Ele caminha em minha direção e me entrega a pequena caixinha desenhada, na frente há um plástico transparente onde dá a oportunidade de vermos um par de sapatinhos amarelos.
— É lindo! — digo excepcionalmente feliz. — Seus amigos quem nos deram?
— É! — Justin coça sua nuca e ri. — Eu pensei que fosse gostar.
— Eu amei. — sou sincera. Rasgo a caixinha e retiro os sapatinhos, parando cara um em meus dois dedos.
Ficamos um tempo em silêncio. Eu não entendo por que, mas eu penso em Hailey e me pergunto como Justin está se sentindo nesse exato momento. E mesmo com medo da resposta, eu não me controlo, simplesmente pergunto aquilo que está preso em minha garganta desde o segundo em que saímos do hospital:
— Você está com raiva dela? — ele demora um pouco para me responder, talvez esteja pensando na devida resposta, na mais simples possível.
— Eu não diria que estou com raiva, talvez decepcionado. — agora Justin encara o colchão sob nossos corpos. Eu apoio os sapatinhos perto do abaju. — Eu pensava que a Hailey fosse perfeita, entende? Eu nunca imaginei que ela pudesse ser tão mesquinha e cruel. Nós tínhamos planos juntos, eu pensava que realmente a amasse, eu sempre a achei maravilhosa, mas eu me enganei. Depois de hoje, tudo aquilo que eu sentia por ela, desapareceu.
— Mas agora será apenas você e eu, não é mesmo?
— Sim, Selena... Vai ser apenas eu, você e nosso bebê.
Naquela noite, não dormimos rápido. Ele se deitou ao meu lado e acariciou meus cabelos, enquanto eu alisava seu rosto quente e cercado por pintinhas amarronzadas. Eu queria que nosso filho se parecesse com ele, talvez fosse a pessoa mais linda que já vi. E se eu pudesse, ficaria com ele para sempre, presos em algo, sozinhos, mas juntos.
No final, eu o ouvi sussurrar em meu ouvido: “você é a garota mais legal que eu já conheci. Sempre se coloque em primeiro lugar e faça tudo por você, então, se sobrar tempo, faça algo pelos outros”.
Será que ele sabe que eu faria qualquer coisa por ele?

“É como se ele não ouvisse uma palavra que eu digo. A cabeça dele está em um lugar muito longe. E eu não sei como chegar até lá”.Wouldn’t Change a Thing.

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