Eu sinto algo dentro de mim que me
afeta lentamente. E assim que eu agarro seus cabelos, deixando os fios ralos
fincarem entre meus dedos grossos, puxo seu corpo e o jogo por trás do meu. Ela
cai ao chão e o barulho se torna tenebroso, só que meus olhos, agora, estão
fixados nela, na pessoa mais ingênua e inocente com a qual eu já estive. É
nesse momento em que eu sinto a raiva alcançar a espinha das minhas costas,
fazendo meu corpo inteiro se virar depois de simplesmente sussurrar em uma voz
quase inaudível:“me
desculpe por isso”. Ela não responde, talvez eu não tenha dado
chance, pois em questão de segundos, digo firme e alto, apertando meus punhos e
sentindo a oleosidade escapar das minhas mãos:
— Eu tenho nojo de você.
Seus
olhos claros me fitam, ela sente medo da forma como eu a observo. Nunca estive
tão nervoso, não tanto quanto me encontro nesse exato momento. Eu poderia
esmurrá-la até sentir seu rosto se espatifar pelos meus punhos cerrados.
Sem
resposta, ela não tem alguma. Mas tenta, tenta se explicar e tudo o que sai da
sua boca é um simples grunhido, logo aperta sua cabeça e massageia o local ao
qual eu puxei. Provavelmente a dor no coro capilar chegou e ardeu todo o seu
corpo, precisamente, sua cabeça.
A
platéia ridícula se encontra em silêncio, caso contrário, alguém sairia
machucado, excluindo, de fato, Selena, que ainda está jogada sobre o chão,
segurando a toalha firmemente em seu corpo. Isso faz com que eu encare as
pessoas ao meu redor e pare minha atenção nas mãos de Kylie Jenner, que, no mesmo
segundo, me olha espantada e se encolhe quando, rapidamente, caminho em sua
direção.
—
Você acha isso engraçado, não é mesmo? — pergunto rindo, só que não há
felicidade do meu tom de voz, muito menos na forma como minha risada sai. —
Será que acharia a mesma graça se fosse com você? — assim que reformulo minha
pergunta, brutalmente, puxo o aparelho branco de suas mãos. Sem esperar
cerimônias, eu o jogo longe, assistindo os pedaços tocarem o chão. Todas
gritaram quando eu o fiz. Agora sim elas terão o merecido show que queriam. — E
você? Perdeu a habilidade de falar? — eu me refiro à Hailey. — Há dois segundos
sua língua não parava quieta. Há algum problema agora?
—
Justin... — ela murmura e se levanta do chão.
—
JUSTIN? — questiono em um berro. — VOCÊ NUNCA MAIS A TRATE DA FORMA COMO VOCÊ
TRATOU. VOCÊ NUNCA MAIS DIGA A ELA AS COISAS QUE VOCÊ DISSE. — eu ando até ela
e sinto seu corpo se encolher da forma como o de Kylie fizera. Antes de eu
continuar, Kendall se pronuncia.
—
Não encoste nela, Justin. — eu olho para a morena assim que paro meus passos.
—
Cale a boca, sua vadia! — xingo, a garota abre sua boca num círculo imenso. —
Se eu quisesse que você dissesse algo, teria me referido a você antes.
Vejo
Selena se arrastar até encostar suas costas em um dos armários. Ela parece
sentir dor, mas não posso perder essa oportunidade.
—
Qual é o seu problema? — agora meu tom é baixo, eu já voltei a olhar para
Hailey. — Você se sente bem dizendo as coisas que disse a ela? Como se ela
fosse a culpada dessa história? Eu sou o culpado disso tudo. — bato meus punhos
no busto, realmente irritado. — FUI EU QUEM FICOU COM ELA MESMO ESTANDO COM
VOCE. — grito outra vez. — Eu sou um idiota mesmo. — rio debochado, ainda
notando que todas as garotas me olham. — Eu fui um otário por você, por alguém
tão mesquinha e ignorante. Por uma garota tão ridícula ao ponto de usar as
palavras como uma forma de arma, apenas para fazer as pessoas se sentirem menos
do que elas são.
—
VOCÊ ESTRAGOU TUDO O QUE NÓS TÍNHAMOS. — a loira grita apertando seus olhos.
Estamos tão perto, eu quero acabar com a raça dela, mas me seguro.
— Ainda bem que eu fiz isso. Você é tão
ridícula, garota. — cerro meus olhos e vejo as lágrimas de Hailey começarem a
se evidenciar. — Você sabia que eu gostava mesmo de você? Agora tudo o que eu
sinto por você é repulsa, Hailey. Você conseguiu me fazer sentir uma coisa que
eu pensei que nunca sentiria por você. Nojo! Nojo é tudo o que eu tenho de você
nesse momento.
Ela
agora chora, é um choro alto, até soluça.
—
Lágrimas não me comovem, elas só me fazem sentir mais raiva ainda. — pauso e
encaro as garotas ao meu redor. Algumas estão vestidas normalmente, outras
estão com toalhas brancas ao redor do corpo. — Sabe tudo isso? Essa platéia que
você tem? Isso não passa de um número assim como você. Você é só mais uma
garota desse colégio para poder ficar se sentindo tão maravilhosa. Você só
impressiona a sua própria platéia. Você é apenas mais um número no meio de
tantos, então abaixe a sua bola.
—
Por favor, não fale dessa forma comigo. — suplica.
— O que te faz tão especial ao ponto de
merecer palavras gentis vindas de mim? Você ainda acha que depois desse
teatrinho nojento que você fez, teremos chances de voltar? — questiono rindo. O
sarcasmo dominou minhas cordas vocais. — Eu nunca voltarei para você e não
existe nunca diga nunca que mude isso. — digo certo. —
Você acha que tem amigas? Acha mesmo que essas garotas se importam com você?
Elas são um bando de seguidoras mal amadas, com poeira na cabeça ao invés de um
cérebro.
Eu
dou alguns passos para trás e sigo em direção às camisinhas tacadas ao chão.
Recolho uma boa quantidade em minhas mãos; quando caminho, voltando a me
aproximar da loira, sorrio amarelado e jogo os pacotes sobre seu rosto,
fazendo-a fechar os olhos e chorar ainda mais.
—
Você não se sente ridícula ficando dessa forma? — eu digo a mesma frase que ela
disse à Selena.
—
Você é um idiota mesmo. — sinto suas mãos baterem em meu corpo, porém seguro
seus pulsos e a empurro com forma. Suas costas batem na cerâmica da parede. Eu
agora sinto meu corpo latejar, a vontade de socar seu rosto me consome, porém
ouço um grito alto:
—
JUSTIN, CARA, LARGA ELA! — eu não preciso olhar para trás para saber que é a
voz do Ryan.
—
Mano, relaxa. — dessa vez quem diz é Alfredo, o mesmo puxa meu corpo com
rapidez.
Por
força do hábito, eu largo os pulsos de Hailey e a mesma massageia a área
afetada, chorando mais do que fez um pouco antes.
—
Sabe de uma coisa? Eu não tenho nojo da vadia que ela é. — eu digo alto, ainda
sentindo meu corpo ser arrastado para trás. Eu tento lutar, mas Chris segura
meu braço esquerdo, enquanto Ryan faz o mesmo com o direito. Alfredo está
encarregado de puxar meu tronco rígido. — Eu prefiro mil vezes ela do que você.
— sorrio orgulhoso, quando me dou conta, há bem mais pessoas do que antes. A
porta do vestiário se encontra deveras cheia, todos os alunos da minha classe
parecem estarem aqui assistindo meu espetáculo. Eu não me importo. — Se você
mexer com a Selena outra vez ou fazer algo contra ela, eu juro, eu acabo com
você. Isso serve para as suas cadelinhas também. — eu olho para as Jenner’s,
que agora também estão afetadas por todas as coisas que eu digo. — Bando de
vadias! — olho para meus amigos e simplesmente grito: — ME LARGEM, PORRA! — os
garotos obedecem. Eu balanço meus cabelos e ouço a diretora adentrar o
vestiário.
— O
que está acontecendo aqui? — ela pergunta.
— Um incrível show de putas. — respondo irritado. A mulher
me encara espantada e eu simplesmente caminho até Selena. Ela mantém seu rosto
pálido e um semblante fraco. Recolho seu corpo do chão, ela apoia sua cabeça em
meu peito esquerdo e fecha seus olhos. Posso sentir o sangue lubrificar meus
braços. Há uma poça imensa no chão, o sangue se mistura com a água da ducha.
Sei que sua toalha está encharcada. Isso me preocupa.
—
Venham para a minha sala, todos vocês. — Elizabeth manda, porém eu rio quando a
olho.
—
Saia da minha frente. — mando. — Eu vou levá-la ao hospital. As coisas não
ficarão assim. — a mulher encara todo o lugar, passa seus olhos sobre o celular
quebrado, nas camisinhas, sobre as garotas e, logo depois, volta a me olhar.
—
Você não pode levá-la daqui, Sr. Bieber.
—
Eu sou maior de idade e ela é minha mulher. Quero ver algum filho da puta me
impedir. — dobro meus lábios e ela pisca calmamente, parece sentir medo da
minha voz. — Agora saia da minha frente antes que eu perca o resto da paciência
que eu ainda tenho.
As
pessoas abrem passagem quando começo a caminhar. Não me preocupa o fato de
ainda ter Selena apenas de tolha em meus braços.
—
Está tudo bem, meu amor. — eu digo baixinho, sei que ela está acordada. A curva
de seus lábios se alarga. Seu sorriso apossa minhas íris.
Ryan,
Chris e Alfredo me seguem. Eu vejo as pessoas nos olharem, nenhuma diz nada,
mas sei que meus amigos carregam minhas coisas por mim, tais como: mochila,
livros e o uniforme do time do colégio. Ryan abre a porta do carro para mim,
deixando com que eu coloque Selena no banco do passageiro. Logo depois, enfiam
minhas coisas para dentro do veículo.
— Nos
vemos depois. — respondo mal humorado. Os três assentem com a cabeça e me
assistem entrar no carro. Olho para trás e vejo a garota encolhida no banco,
ainda segura a tolha. Está sujando o estofado, nada que eu ligue.
Dirijo
rapidamente, logo deixando apenas uma mão no volante, levando a outra para
dentro do bolso do meu jeans, deslizando meu celular contra ele. Disco seu
número com rapidez e, com um pouco de dificuldade, apoio o aparelho na orelha,
ouvindo a ligação ser chamada. Em menos de um minuto, ela me atende e eu logo
digo:
—
Mãe?
— Oi, Justin... Tudo bem,
meu amor? Aconteceu algo? —
sua voz é singela como de costume.
— Aconteceu, sim. Eu estou indo ao Ronald Reagan, será que a
senhora poderia me encontrar lá?
— O que aconteceu, Justin?
Você está me assustando. —
agora ela parece aflita, deveras preocupada.
— A
Selena está sangrando e eu não sei o que fazer.
— Tudo bem, eu já estou
saindo daqui.
—
Obrigado. — assim que respondo, ela solta uma risada fraca e eu corto a
ligação, jogando o celular no piso do carro.
Assim
que chego ao hospital, retiro Selena do carro e corro para dentro do enorme
prédio, seguindo até a recepção e explicando poucos detalhes. Não demorou muito
para que ela seja posta em uma maca e levada para longe. Tudo o que me resta é
esperar, no entanto, me sento em uma das cadeiras ao lado de várias outras
pessoas e espero o tempo passar. Quase cerca de dez minutos depois, Pattie
chega correndo. Agora eu tenho a certeza do quanto está preocupada.
—
Querido, o que aconteceu? — pergunta assim que me levanto e sou puxado para um
abraço. — Ela caiu?
—
Eu não sei, eu... Eu não posso explicá-la agora. Eu estou tão nervoso. —
confesso, afundando meu rosto em seu ombro. Pattie é tão baixa que preciso
inclinar o meu corpo.
—
Fique calmo. — pede e ri. Afasto meu corpo do dela e a mulher alisa meu rosto.
Será que ela não compreende que não consigo me acalmar?
— Você acha que o bebê está bem?
—
Eu não sei, Justin. — não mente e nem tenta me iludir falando que vai ficar
tudo bem. — O seu pai virá assim que puder.
—
Por que a senhora contou a ele? — pergunto nervoso. Estamos agora sentados.
—
Justin, ele só quer ajudar. — ela tenta se defender, porém eu apenas resmungo
irritado.
—
Se for para jogar a ajuda na minha cara depois, eu recuso a oferta.
—
Pare de ser tão orgulhoso. — exige. — Se ela precisar ficar internada por um
tempo, o que você fará? — eu não a respondo, pois não encontro uma defesa. Se
Selena precisar ficar internada, eu não saberei como pagar as despesas e
novamente eu precisarei do meu pai. — Jeremy não tem a intenção de te diminuir
com qualquer coisa que você faça. Ele só quer que você cresça e aprenda com os
seus erros. Quer que se torne um homem bom. E mesmo que você não acredite, ele
ama você. Nós te amamos e Selena faz parte da família agora. Então pare com
essa besteira de achar que pode fazer tudo sozinho. Os pais daquela garota não
estão nem aí. Eles devem estar achando bom o fato de Selena ter engravidado e
saído das asas deles, porque nem telefonar perguntando se ela está bem, eles
fazem.
Ficamos
em silêncio por algum tempo, eu tive a oportunidade de rever tudo o que
aconteceu. Me sinto um estúpido por ter pensando, em algum momento, que Selena
houvesse inventado a história de que Hailey havia mexido com ela. Idiota, é
isso o que eu sou. Ela seria incapaz de mentir sobre isso.
Quando
vejo o doutor se aproximar segurando alguns papéis em suas mãos grossas,
levanto-me da cadeira e vejo mamãe fazer o mesmo. O homem lança-nos um sorriso
fraco e encara as papeladas, logo depois, proferindo o nome de Selena.
—
Ela está bem? — eu pergunto realmente angustiado.
—
Sim, ela está ótima. — o homem responde e me olha por cima dos seus óculos.
— E
o bebê? — reformulo a questão.
—
Também está bem. — eu bufo aliviado, fechando meus olhos e agradecendo por
isso. — Selena está bem, mas eu sugiro que tomem mais cuidado de agora em
diante. Ela é nova e está tendo uma gravidez de risco, seu corpo não é
completamente preparado para gerar uma criança. Então, todo cuidado é pouco.
—
Qual foi o motivo do sangramento? — minha mãe tira a pergunta da minha boca.
—
Bom, foi mais pelo nervosismo e o estresse. — assinto com a cabeça, massageando
meus lábios com a língua. — É essencial que ela não carregue peso, e
aconselhável que coma coisas saudáveis e faça algum tipo de exercício. Caminhar
é uma ótima escolha. De maneira alguma ela deve ficar subindo e descendo
escadas.
—
Tudo bem. — respondo. — Quando Selena terá alta?
—
Assim que os exames saírem, ela será liberada. Vocês já podem vê-la.
—
Obrigada. — minha mãe diz.
—
Com licença. — o médico novamente sorri e logo dá as costas.
Eu
digo à Pattie que quero conversar com Selena, ela, no entanto, balança a cabeça
e volta a se sentar, enquanto observa meu corpo ser dirigido ao quarto onde
Selena se encontra.
Quando
fico com meu corpo diante à porta, bato na madeira branca três vezes seguidas e
ouço sua voz fina e delicada responder:
“Entre”.
Assim
faço, coloco todo o meu corpo para dentro do quarto e fecho a porta por trás
das minhas costas. Ela sorri quando nossos olhares se colidem, eu retribuo
calmamente, despachando a aflição, deixando-a distante de nossa futura
conversa.
—
Está se sentindo melhor?
—
Uhum. — ela responde meiga, sentando-se corretamente sobre a cama. — Está tudo
bem com o nosso bebê?
—
Graças a Deus, sim. — me sento no final da cama e aliso seus pés cobertos pelo
lençol branco.
—
Obrigada por ter me defendido. — ela parece sincera, então, eu procuro as
palavras certas para respondê-la.
—
Não foi nada, Selena, só que você precisa aprender a se defender sozinha. Eu
não estarei por perto sempre. — ela balança a cabeça, presta bastante atenção
no que eu digo. — Se não fosse por aquela garota, sabe lá o que teria
acontecido com você.
—
Que garota? — pergunta.
—
Eu nem sei quem é ela. Tudo o que eu sei é que uma loira alta de olhos claros
foi até a minha sala buscar ajuda.
—
Taylor. — Selena sussurra. — Eu tentei me defender, mas... Eu não sei como,
Justin.
—
Claro que sabe. — eu quase grito. — Se aquelas garotas tentarem te humilhar
novamente, desça a mão nelas. — a morena gargalha e eu acabo fazendo o mesmo. —
A Hailey se acha o centro do universo, mas ela não é duas. Não deixe ninguém te
humilhar daquela forma nunca mais. Está me ouvindo?
—
Estou.
—
Isso aí. — respiro fundo e sorrio de lado. — Não quero que pense que qualquer
idiotice que elas disseram seja verdade. Aquele tipo de garota só impressiona
seus próprios seguidores. Todas elas juntas não dariam uma de você. — não
minto, nem ao menos penso em fazer um ato tão egoísta. — Você não precisa e nem
dever se sentir mal por causa das bobeiras que elas disseram.
—
Não irei, juro. — garante. Por fim, eu me levanto e encaro seu rosto agora
aliviado. Parece bem mais saudável do que a última vez que a vi. — Aquilo que
você disse é verdade? — não respondo, sei que ela irá reformular sua pergunta.
— É sério que você prefere eu do que ela? — eu penso um pouco, mas logo balanço
minha cabeça positivamente. Não estou olhando-a, mas sei que ela me encara.
—
Sim! — respondi firmemente. — Eu detesto pessoas que se sentem melhores do que
as outras. — confesso. — E eu tenho certeza de uma coisa: você seria incapaz de
usar suas palavras para diminuir alguém.
Nós não sabemos para onde ir, então vou me perder com você. Nós nunca desmoronaremos, porque nos encaixamos direito, nós nos encaixamos direito. — Two Pieces
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