10/06/2016

Capítulo 06.



— Eu não vou te deixar, Selena. — ele diz com toda certeza do mundo, passando seus dedos sobre meu rosto e limpando as lágrimas que insistiam em saírem de mim. — Ouça, esqueça o que as pessoas disseram, você não tem que se importar com essas coisas, ok? — eu apenas balanço a cabeça, fungando tão fortemente, sentindo meus pulmões doerem devido à falta de ar que acabo tendo.
Justin, num ato egocêntrico, suspira alto e desvia do meu corpo, seguindo até a porta e a abrindo sem cerimônias. Antes de segui-lo, eu observo o asfalto entre as divisórias do enorme gramado. Eu queria que ele tivesse me abraçado de volta, mas a única coisa que ele fez, foi empurra meu corpo e me dizer tais palavras, que, apesar de tudo, foram as melhores coisas que ouvi essa manhã.  
Adentro em minha casa e sinto o cheiro confortante que há em cada obstáculo, em cada móvel, em cada cantinho.
Sento-me no sofá e limpo meu rosto com as costas das minhas mãos.
Vejo seu corpo descer as escadas, ele parece apressado. Segura seu celular com a mão direita e, com a direita, encara um papel branco. O loiro ri e se aproxima, parando o celular na mesa central; ela divide o sofá e a estante com nossa mediana televisão. Eu observo e acompanho cada um de seus movimentos.
— Eu liguei para o David e ele não se importou de eu me atrasar um pouco. — ri. — Acabei de pedir para entregarem nossa comida.
— Vamos almoçar juntos? — questiono feliz. Eu queria mesmo passar um tempo com ele. No entanto, Justin concorda com a cabeça. Logo eu o vejo ir até a cozinha, não diz mais nada.  
Seu celular vibra sobre o vidro e, logo depois de protestar um toque irritante, cai sobre o tapete aveludado, parando poucos centímetros distantes dos meus pés juntos. Abaixo meu corpo um pouco e o recolho, encarando perfeitamente bem o visor claro, capaz de arder minhas vistas doloridas pelo choro dramático que soltei minutos atrás.
“Hails”, leio baixinho, sei que é ela, e, por essa razão, recuso a ligação em apenas um movimento rápido com meu polegar.
Seus passos se tornam audíveis, isso faz com que eu crie coragem e gire meu rosto, olhando Justin se aproximar rapidamente.
— Você atendeu? — quando pergunta, não parece irritado. — Quem era?
— Engano. — minto um pouco nervosa, parando o aparelho sobre a mesa de vidro. Justin entorta sua boca e caminha até mim, desviando seu corpo do sofá e recolhendo o celular.
Sua expressão facial muda no segundo em que observa bem seu celular. Ele me olha por cima do aparelho e logo volta a encará-lo.
Junto minhas mãos e quando penso em me levantar, ele dá um arranco forte em sua garganta e simplesmente diz:
— Era a Hailey. — não mentiu, eu sei que era ela. — Por que não me chamou?
— Achei que pudesse não ser importante. — respondo baixo, sem conseguir desviar meu olhar do dele, só que, em questão de segundos, ele ri esnobe e coloca o celular sobre a orelha virando seu corpo e apoiando o cotovelo direito no braço esquerdo.
Ele está ligando para ela.
— Você vai ligar para ela? — mesmo sabendo a resposta, eu pergunto. 
— Vou. — ele responde sério, sem se dá ao trabalho de me olhar.
Eu ando rápido e paro em sua frente.
— Será que você consegue parar de pensar nela por um segundo e pensar um pouco em mim? — Justin enruga seus lábios e simplesmente desliga o celular, jogando-o no sofá. Agora ele está nervoso.
— E você acha que eu tenho feito o que durante essas semanas? — questiona invocado, fazendo com que eu dê dois passos para trás. — Essa porra toda está sendo por sua causa e não por causa dela. — de repente, ele ri e se vira. Justin começa a andar de um lado para o outro. — E esse lance de Hailey ter mexido com você? Você falou a verdade ou simplesmente mentiu sobre isso?
— Eu não minto. — digo firme.
— Ah, não? — começo a ficar angustiada com seu tom de você. — E o que acabara de fazer? — ele questiona sobre o fato de eu tê-lo dito ter sido engano, só que eu não quero realmente dizer o real motivo.
Essa é a hora que eu me engasgo com as palavras não ditas.
— Eu só não quero que você fale com ela. — digo a verdade.
— Vê se cresce, Selena! — exige. — Pare de ficar se comportando como uma garotinha. Você está grávida, precisa parar de agir como uma menina boba que só fica chorando. As coisas são diferentes agora, dá para você entender? — meus olhos se desmancham, mas eu não choro. Isso é um mero capricho meu, apenas por ter escutado da boca dele, as sete piores palavras: “uma menina boba que só fica chorando”. — Eu sei que está sendo difícil para você, mas também não é a coisa mais fácil do mundo para mim.
— VOCÊ NÃO ENTENDE! — eu grito e aperto meus olhos, minha cabeça acabara de dor. Isso destrói o pouco do meu bom dia. — Eu perdi todas as minhas amigas, eu não tenho mais ninguém. Nem meus pais têm interesse de manter contato e a única pessoa ao qual ainda fala comigo, é você. Será que pode, pelo menos, fingir que eu não sou a pior garota para você?
— PARE DE SE VITIMAR — exige em um simples berro. — Eu estou tentando de verdade ter um bom relacionamento com você.
— Você não está tentando, você simplesmente atura o que estamos tendo... Se é que temos alguma coisa. — ele bufa alto e se afasta um pouco mais, recolhendo sua jaqueta que estava apoiada no braço do sofá. — Eu gosto de você, eu gosto mesmo de você. E sabe de uma coisa? Eu acho que gosto de gostar de você.
O louro nega com a cabeça, lambe seus lábios e simplesmente diz, na voz mais áspera que pôde:
 Eu gosto de outra.

Eu almocei sozinha naquele dia. Ele partiu e eu chorei no segundo em que vi seu corpo atravessar a porta... Cheguei a soluçar no segundo em que seu carro sumiu das minhas vistas. E depois de muito acabar comigo mesmo sentada no sofá, encarando a televisão desligada, eu telefonei para minha mãe e ela só me atendeu depois de tanto insistir.
Eu não sabia como deixar invisível a dramatização em minha voz, então eu apenas funguei fundo, limpei meu rosto e sorri após ouvi-la chamar por meu nome.
— Mamãe, tudo bem?
— Tudo bem, querida. E você?
— Sim, eu liguei porque queria saber se a senhora poderia me acompanhar em uma consulta? Eu estou com tanta vergonha de ir sozinha.
— Mmm, Selena, você sabe que eu não posso, eu trabalho. — balanço a cabeça mesmo sabendo que ela não pode ver. — Chame alguma amiga sua. Quem sabe a Taylor?— não, eu não quero. — Você precisa aprender a se virar sozinha.
— É. — eu respondo sem ânimo. — Quando virá me visitar?
— Não sei, posso tentar vê-la esse final de semana, tudo bem? Você resolveu morar distante.
— O pai do Justin foi gentil em nos dar um lugar para ficar. — resmungo, eu quero chorar. — Mãe... Eu me sinto tão sozinha agora. — então eu choro, passando minhas mãos no rosto e sentindo meu estômago se revirar por dentro do meu corpo. Isso parece tê-la deixado mal. Mandy sibila alto, mas não me responde. Isso me deixa tão péssima. Quando puder falar comigo, por favor, me ligue. — antes de obter uma resposta, encerro a ligação e apoio o telefone no gancho.
Eu sei que eu entenderei mais tarde, que sua decepção é aceitável, mas eu não posso compreender agora. Eu queria que ela... Pelo menos ela, estivesse ao meu lado. Isso parece estar sendo pior do que o imaginado.
Agora eu sinto meus olhos inchados de tanto tentar sozinha.
(...)
Suas íris claras me fitam, ela respira forte enquanto estou ocupada demais encarando o chão. Mesmo sem observá-la, sei que me passa aquele tipo de olhar angustiado e ao mesmo tempo penoso.  
Ela era o tipo de gente que me fazia rir com apenas uma palavra, porém agora não parece a mesma garota que conheci no sétimo ano.
Então depois de minutos caladas, deixando o gelo nos separar de uma distância mínima, eu pergunto:
— Você ainda é minha amiga?
— Acho que sou. — responde Taylor, olhando para os lados. 
— Você é minha amiga aqui e agora, mas não no colégio?
— Não sei o que você quer de mim. Isso não é culpa minha, Selena. Nada disso. — diz arrogante.
— Por que você não pode ficar do meu lado?
— Será que você não podia ter agido como uma garota normal? Você não tinha que ter transado com ele.
— Então, você está dizendo que tudo o que está acontecendo é culpa minha?
— Bom, você deixou com que as coisas acontecessem, é mais do que óbvio a Hailey querer atacar você. — minha boca agora está tão mais aberta do que o normal.
Assim, enfio minhas mãos para dentro do bolso do meu casaco e viro meu corpo, correndo contra sua casa, sentindo meus pés começarem a falhar comigo.

Justin Bieber POV.
05h00min PM.
— Então... Você pode começar amanhã, Justin. — eu sorrio agradecido e balanço a cabeça como forma de atenção. Eu realmente estava um pouco distraído, porém nada tão forte que pudesse me fazer distanciar do mundo. — Até lá, então.
Eu me despeço de David e caminho para fora da oficina. Assim que desarmo meu carro, vejo, sem precisar me esforçar muito, meu pai vir em minha direção. Começo a me perguntar se é apenas uma coincidência, ou se ele está aqui realmente para conversar um pouco. De qualquer forma, torço, realmente, para que seja a primeira opção. Acho que odiaria ter uma conversa agora.
— Vamos dar uma volta. — eu bufo e volto a armar o carro, dando a volta e caminhando ao lado do homem que mantém suas mãos dentro dos bolsos de sua calça social. — Então, o que você tem a me dizer?
— Eu não sei se tenho algo a te dizer. — não minto.
— Você sabe que ainda me agradecerá por tudo isso, não é mesmo?
— Por que eu faria isso? — meu tom de voz é cercado por irônica. Eu sorrio mesmo não achando graça, talvez isso fosse a arma mais forte que eu tenha contra Jeremy. O sarcasmo
— Ouça, Justin, se eu insisti nisso, é porque eu sei o que é melhor para você. — eu encaro meus pés, estamos andando pelos asfaltos, sem sequer nos importarmos da distancia que criamos entre nós dois e meu carro. — Você tem dezenove anos, não é mais um garoto. — isso me faz rir, pois eu disse algo parecido à Selena. — Se você não quisesse isso, não teria ficado com aquela garota... É isso o que ela é. Ela é só uma garota.
— Eu não estou feliz. — falo rápido.
— Esse casamento não é para te fazer feliz. Esse casamento não é para você. — eu engulo o seco e o olho. — Você não se casou para ser feliz, você se casou para fazer uma pessoa feliz. É muito mais do que você pensa, você se casou para uma família. Não foi por minha causa ou por causa da sua mãe, mas por causa do seu futuro filho. Quem você espera que a ajude criá-lo? Quem você espera que a ajude durante a noite? — enrugo meu rosto e sei que as linhas faciais da minha testa estão evidentes. — Esse casamento não é sobre você, ele é sobre a pessoa com quem você se casou.
— Isso é injusto. — acuso.
— Ela é uma boa garota, não estou dizendo que a outra é menos que isso... Mas... Você ainda acha que aquele relacionamento teria algum futuro? — eu não tinha a certeza de que teria futuro, mas eu realmente esperava que tivesse.
— Eu não sei o que fazer.
— Bom... — Jeremy solta uma risada e nós dois paramos em frente a um poste aceso. — Ela ligou para Pattie essa tarde.
— Selena?
— Sim.
— Por quê?
— Porque a Pattie foi a única pessoa que aceitou acompanhá-la ao médico. — meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu não entendo o porquê. — Acha que está sendo ruim apenas para você? Acha mesmo que só você está infeliz? Se pensa assim, você está enganado, Justin.
— Pai... — eu tento argumentar, mas não encontro palavras, eu realmente não sei o que dizer a ele.
— Ouça, às vezes, sinto vontade de te sacudir e dizer para você parar de se comportar como um moleque. Você não é mais um.  
— Eu estou tentando.
— Não... Tentar é bem mais do que apenas estar morando com ela. — diz rude, eu sei que ele não  quer me afetar propositalmente. — Você não sente como se estivesse fracassando em todas as coisas das quais tem feito? Ultimamente, parece tão distante pensando em uma garota que agora deveria ser apenas uma qualquer. — eu não o rebato, isso parece bem mais distante do que uma volta ao espaço sideral. — O que você pretende fazer? Deixá-la quando aquele bebê finalmente nascer? É dessa forma que pretende provar o quão homem você é?
Não, pai, não é dessa forma, penso.
Ele termina seu sermão com uma frase tão imprevisível quanto à própria conversa. “Cuidado, você não é a única exceção das pessoas, fique ciente disso”.
Abro aporta e logo a tranco quando enfio todo o meu corpo gelado para dentro de casa. As luzes estão apagadas e o silêncio é constante. Penso que Selena não está em casa, mas mudo de ideia quando subo as escadas e caminho pelo imenso corredor. Há uma claridade sobre, tenho a certeza quando empurro a porta do quarto e vejo o abajur aceso ao lado da cama. Ela e está dormindo. Há dois travesseiros consigo. Um ao seu lado, cobrindo o lugar que dormi noite passada, e o outro se mantém pertinho dela, contra seu peito, envolvido em seus braços fracos.  
Eu a observo bem, é linda, de fato.
Recolho o travesseiro e me sento no lugar agora vago, bem quentinho. Retiro minha camiseta depois de jogar a jaqueta longe. Sinto seu corpo se mexer e isso faz com que eu movimente meu rosto e a olhe outra vez. Quando vejo seus olhos se abrindo calmamente, observo cada detalhe abatido do seu rosto. Ela chorou, provavelmente, o dia todo. As escleróticas de seus olhos estão tão avermelhadas, parece arderem.
— Desculpe por ter sido rude hoje. — começo o assunto mesmo não sabendo que ela quer falar sobre. Eu apenas fiquei nervoso por não ter conseguido falar com Hailey, mas eu não podia dizer isso a ela. — É que isso é realmente estranho e eu ainda estou aprendo a lidar com certas coisas.
— Está tudo bem. — ela responde sonolenta, piscando várias e várias vezes, aconchegando-se na cama. — Se eu estivesse no seu lugar, teria dito o mesmo.
— Por que se submete tanto às pessoas? Você não precisa disso.
— Eu sei, mas... — Selena não responde, levanta as costas do colchão e se senta sobre o mesmo, cruzando suas pernas e passando as mãos pelos cabelos. — Ah, eu sou assim. — eu solto uma risada e balanço meus cabelos.
— Eu soube que ligou para a minha mãe.
— Eu juro que não disse nada sobre nós dois... Eu só perguntei se ela podia me fazer companhia.
— O que há?
— Pré-natal.
— Bom... Eu não entendo dessas coisas. — ela solta uma risada meiga e balança seu corpo. — Já comeu algo?
— Eu fui ao mercadinho e comprei uns salgados. Estou cheia.
— Pare de comer tanta bobeira.
— Eu ainda não sei cozinhar.
— Temos que dar um jeito nisso.
— Desculpe, eu vou tentar aprender.
— Pare de se desculpar por coisas tolas. — mando.
— É ridículo alguém como você, se casar com uma garota que mal sabe ferver água.
— Não tem importância isso, não se preocupe. Nós daremos um jeito. — eu a olho após retirar os tênis e vejo a curva de seus lábios de uma forma meiga. Combina com seu jeito inocente. — Qual é a pergunta de hoje?
 O amor é capaz de mover uma montanha?
— Eu acho que sim. — ela sorri outra vez e se inclina um pouco, ficando ajoelhada no colchão. Então, rapidamente, se arrasta dessa forma, se aproximando de todo o meu eu.
— Eu acho que ficamos bonitinhos juntos. — eu gargalho e sinto suas mãos serem envolvidas em meu pescoço. Ela alisa minha nuca e puxa os menores pelos que há nessa região. Fecho meus olhos algumas vezes, estamos muito perto. — Por favor, fica comigo... — seus dedos pulam para minhas bochechas e logo seu indicador tateia os arredores dos meus lábios. Ela cola sua testa sobre a minha e eu acabo sentindo seu perfume dócil. Agora, ergo minhas mãos e envolvo várias mechas de seus cabelos entre meus dedos; sinto a finura de cada fio, posso sentir também, como seu corpo fica vulnerável quando estou por perto. — Fica comigo, fica comigo, fica comigo! — ela repete várias e várias vezes, em sussurros piedosos e gentis.
Então, eu a beijo. Sua boca se contrai e ela sorri, deixando seu corpo cair sobre o meu.
Tão diferente de todas as outras.

“Eu quero ser o seu sonho que se realizou, eu quero ter medo do quão forte é o que eu sinto por você. Apenas me chame de bonita”.B-E-A-Utiful.

Nenhum comentário:

Postar um comentário