10/06/2016

Capítulo 03.


Seus olhos, agora, estão arregalados. O vento forte cobre meu rosto e eu sinto a chuva começar a se manifestar em pequenas e fracas gotas arredondadas. Meu rosto é afetado e eu vejo Selena se levantar e me esperar fazer o mesmo, de repente, ela corre até uma simples lojinha e cobre seus cabelos ondulados com uma boa parte do capuz que há em seu casaco preto.
Talvez ela esteja se perguntando por que do meu pedido, porém ainda sim, não é capaz de respondê-lo.
— Você está me pedindo em casamento? — apenas balanço a cabeça, não sei mais o que dizer. — Justin, você não precisa fazer isso.
— Isso é mais sobre você do que sobre mim. — falo alto, encostando meu corpo na parede garranchada. — Mas se você não quiser, tudo bem, eu entendo. — dessa vez ela me olha e enruga seus lábios intencionalmente, quero que os mesmo fossem assegurados dentro de sua boca. Isso é impossível, ela tem uma boca realmente linda. Notei isso não agora, há umas semanas.
— Não... — ela pragueja baixinho. — Eu quero, quero muito. — Selena sorri, mas não mostra as linhas curvadas de seus dentes.
— Então... Eu vou indo. Você quer uma carona? — ela olha para a rua e a vê molhada, culpa da chuva que ainda está acontecendo.
— Eu acho que não quero ficar aqui sozinha.
Então, nós dois corremos sob as inúmeras gotículas de água que cai demasiadamente do céu nublado. Assim que abro a porta do motorista e me enfio para dentro do carro, Selena faz o mesmo, colocando seu corpo bem ao lado do meu. Seus cabelos estão ainda secos, mas o meus... Posso sentir algumas mechas pregarem em minha testa, também, molhada.
Ligo o carro e nos tiro dali, vendo o vidro ficar cada vez mais embaçado.
— Bom, você tem alguma mania esquisita? — questiono, a fim de quebrar o gelo entre nós dois. Seus olhos me encaram e ela nega com a cabeça. — É que eu espero não dormir debaixo do mesmo teto que uma maníaca. — a garota ri, parece realmente ter achado engraçado.
— Eu acho que não sou esquisita. — diz ela. — Mas eu me faço uma pergunta todos os dias de manhã. São perguntas que, provavelmente, nunca terão respostas.
— Como, por exemplo? — estou encarando a estranha, mas presto atenção em sua fala.
 Onde fica o final do arco-íris? — eu rio esnobe e a olho pelo final dos meus olhos. Selena está ainda me observando.
— Pergunte a Deus. — sou sarcástico.
— Se fosse perguntar a Ele cada uma dessas coisas, eu ainda sim continuaria sem as respostas. — seu timbre não é agressivo, ela apenas disse de uma forma meiga e compreensível, deixando evidente que não, Ele não a ouviria. — Deus está ocupado demais cuidando de coisas realmente importantes. Eu acho que Ele não me escuta mais.
— Posso te fazer uma pergunta? — ela apenas concorda com a cabeça e olha para a janela ao seu lado. — Você é daquele tipo suicida que gosta de cortar os pulsos?
— O quê? — no mesmo instante, Selena me olha. — Não, eu não machuco a mim mesma.
— Ah sim, que bom. Seria péssimo saber que uma garota bonita como você, faz esse tipo de coisa. — o rubor em suas bochechas aparece e ela morde seus lábios, um pouco envergonhada. Eu apenas sorrio e volto a prestar atenção na estrada por trás de nossos corpos. — Então, mais alguma pergunta?
— O que veio primeiro: o ovo ou a galinha?
— Com certeza o ovo. — eu respondo óbvio.
— Ok, como se escreve o “zero” em algarismo romano?
— Uau, eu não faço a mínima ideia. — gargalho, jogando minha cabeça para trás, encostando-a no estofado do banco.
— Por que zero elevado a zero é igual a um?
— Eu já saquei. Você é aquele tipo de garota que pergunta o porquê de tudo. — Selena entorta o pescoço e levanta uma de suas sobrancelhas. — A mãe fala: “filha, você não pode brincar na chuva...” Você pergunta: “por quê?” — de repente, ela gargalha. — A mãe responde: “porque você ficará resfriada”, e então você pergunta: “por quê?”.
— Não, eu só gosto de saber a razão das coisas... — ela se defende, mas não está na defensiva, muito pelo contrário, está rindo.
— Por quê?  — sou irônico, mas não ameaçador. Então, nós dois rimos.
Assim que paro o carro, a garota retira o cinto e volta a passar o capuz sobre seus cabelos. Eu destravo a porta e giro a chave na ignição.
— Você contou a ela? — sua pergunta sai quase em um sussurro. Agora, eu acho que ela pensa que ficarei irritado, mas não, eu apenas nego com a cabeça e respondo:
— Não, ainda. — Selena balança a cabeça e me olha uma última vez. — Nos vemos depois. — digo sincero.
— Não se esqueça de mim, por favor. — ela implora.
— Somos do mesmo colégio, Selena. — eu a lembro e rio. — Eu preciso resolver algumas coisas antes de tomar qualquer outra decisão. E eu preciso contar isso à Hailey.
— Nos vemos depois. — a morena se inclina e beija minha bochecha, deixando-me assustado no mesmo segundo. Então, ela abre a porta do carro e sai do mesmo, correndo até sua casa um pouco à frente.
Eu dirijo rápido, passando minha mão direita sobre os cabelos, enquanto firmo a esquerda no volante. Treino algumas falas, mas nenhuma delas parece boa o suficiente para falar à garota que eu gosto, que estarei com outra brevemente. Certo, não, precipitado, talvez, mas errado, com certeza. Porém no segundo em que eu vi Hailey passar pela porta, eu tive a certeza de que ficaria algumas semanas sozinho até que ela voltasse outra vez, mas agora as coisas são diferentes.
Após lhe enviar uma mensagem de texto, a porta de sua casa é aberta e seu rosto aparece através do vidro embaçado do meu carro. Hailey me grita e eu desço do automóvel logo em seguida, correndo da chuva, sentindo a água apossar meus tênis escuros.
— Eu pensei que você não fosse aparecer mais. Nem à aula hoje você foi. — sua voz fina diz, mas quando seu corpo se aproxima e ela tenta me beija, desvio o rosto e adentro melhor sua casa, fechando a porta, segundos antes. — Aconteceu alguma coisa, Justin?
— Aconteceu, sim. — respondo irado, encarando todos os quadros que estão sobre a parede. — Eu vou ser pai. — digo rápido, pois nunca fui fã de embolação.
Hailey não parece acreditar, ela simplesmente solta uma risada e morde os lábios.
— Eu não estou grávida, Justin. — acetifica-se. Eu a olho profundamente, assim, seu sorrio se desfaz e ela abre sua boca demonstrando a aflição que acabara de sentir. — Você esteve com outra garota?
— Foi quando estivemos separados. — de repente, sua mão direita vai de encontro ao meu rosto e um tapa forte toca minha bochecha, a mesma que Selena beijou há alguns minutos. Minha visão, agora, encara o chão coberto por um simples tapete vermelho. Hailey solta um rugido ameaçador, talvez ela pudesse quebrar o chão caso fosse menos mortal do que é.
— Saia da minha casa. — exige alto e firme.
— Precisamos conversar. — insisto. Quando eu a olho, vejo Hailey chorar.
— Justin, você engravidou outra garota. — suas palavras são lançadas contra mim, mais afiadas do que uma faca, pois ela sabe que eu realmente a amo.
— Eu não queria isso, amor.
— Não me chame de amor. — assinto com a cabeça e, logo mais, recuso minha fala. O silencio nos cobre, ela não se dá ao trabalho de me dizer mais nada. Então, eu solto o ar que nem ao menos prestei atenção que segurava.
— Me desculpe, por favor. — suplico e vou a sua direção, parando minhas mãos em seus ombros. — Você sabe que é de você que eu gosto. Sempre foi assim. — depois de ficarmos mais alguns segundos em silêncio, sua voz soa:
— O que você fará? — pergunta me olhando fixamente. Eu temo, não quero dizer a ela sobre meu pedido e nem sobre quem é tudo isso.
— Eu vou me casar, Hailey.
— O quê?
— É o que meus pais querem e esperam que eu faça. — digo sincero. — Ela é muito nova e... Eu sei que vou me arrepender, mas, Hailey, é questão de tempo. Quando a criança nascer, eu e você ainda podemos ficar juntos.
— Você está de sacanagem com a minha cara. — ela debocha e ri. — O que te faz pensar que eu vou aceitar isso?
— É a única opção. — respondo singelo, demonstrando um semblante intacto e péssimo.
Hailey abre a porta de sua casa e me manda ir embora. Eu a entendo, compreendo e até mesmo me surpreendo por não ter tido uma reação mais apavorante. A loira sempre foi impulsiva e nada calma. Talvez ela só precisasse pensar um pouco. Eu acabo esperando ela, no final das contas.
Jogo meu casaco sobre o sofá e Jeremy me olha logo em seguida. À noite agora está caindo, meu corpo parece exausto. No entanto, seus olhos escuros cobrem meu corpo, seu físico se levanta e ele bufa um pouco ansioso.
— Satisfeito? Eu já fiz o que o senhor tanto esperava. — digo rude. Quando sua boca se abre, pigarreio e subo as escadas com pressa. Eu o ouço me chamar algumas vezes, porém não me dou ao trabalho de sequer corresponder ao meu nome soando de suas cordas vocais afetada pela meia idade.

Selena Gomez POV.
09h20min AM.
 
— Jennifer me contou. — a voz de Taylor é protestada. Eu agora estou olhando-a pelo reflexo do espelho que há no banheiro feminino.
— Eu pensei que ela fosse me deixar fazer isso. — respondo e rio, mas ela não faz o mesmo. — Eu estou de três semanas, talvez quatro. — quando completo, passo minhas mãos sobre a barriga coberta pelo uniforme verde. Ainda não cresceu muita coisa, talvez desse para notar, talvez não.
— E o que você vai fazer?
— Ele me pediu em casamento, Taylor. — meu sorriso se alarga. Uma coisa começa a me incomodar, Taylor nem ao menos curva seus lábios, ela permanece séria desde o segundo em que entramos no banheiro. — Você não tem nada para me falar?
— Você espera que eu fale o quê? — questiona-me e eu vejo a impaciência nela. — Quando eu disse que te ajudaria a ficar com o Justin, eu não estava dizendo para você transar com ele na primeira oportunidade.
— Taylor. — sussurro.
— Ele só te pediu isso, porque se sente culpado. Deixe de ser tapada, Selena. Você vai mesmo se casar com um garoto que nem gosta de você. — dessa vez ela parece estressada, quase grita comigo, mas eu estou bem a sua frente.
— Eu pensei que você fosse ficar do meu lado... Quero dizer, somos amigas. — eu olho ao meu redor, esperando que ela revide minha fala. Porém ela não o faz. — Você não quer mais ser a minha amiga? Porque é isso o que você está demonstrando.
— Eu só estou dizendo que você foi precipitada e imatura. Ele usou você. Acha mesmo que teria essa oportunidade caso ela estivesse com ele? — a loura pausa e pisca calmamente. — Agiu como uma vadia, Selena. O que ele deve pensar de você, afinal?
— Eu não sei ele, mas pelo visto, você não tem tantos pensamentos bons sobre mim.  — coço a lateral do meu rosto e me olho pelo espelho. — Por favor, não fique contra mim, Taylor. Você é minha melhor amiga e eu penso que é a única que posso confiar.
— Logo mais, você será o assunto daqui, sabia disso? Está grávida do garoto mais popular do colégio. Você não deveria vir à aula, Selena, mas já que está vindo, é melhor não contar sobre isso a ninguém.
— Eu não pensei em fazer isso. — murmuro baixinho, agora abraçando meu próprio corpo. — A família dele foi gentil... Ele está sendo gentil comigo. Será que vai doer se você fizer o mesmo?
— Desculpe, mas eu não quero estar presente quando sua reputação for a coisa mais baixa do colégio. — a loura balança a cabeça, recolhe sua mochila e atravessa meu corpo, me deixando sozinha no banheiro.
Eu penso por algum tempo, pisco tão fortemente que talvez meus olhos pudessem se fundir dentro de mim. Então, cansada, me arrasto para fora, vendo algumas pessoas passarem pelo corredor, algumas riem, outras mantém o semblante sério, mas não chega ser tão mais preocupante quanto o meu.
E lá está ele, sentado sobre uma mesa no centro do refeitório. Mesmo querendo, não vou até lá. Não encontro Taylor, e na verdade, não sei se ao menos quero encontrá-la.
Apoio minha mochila sobre a mesa mais afastada do refeitório e abro meu pacote de cheetos, encarando não só uma pessoa, mas sim todas que passam pelo perímetro no qual estou.
— Você não deveria comer essas bobeiras. — olho por trás do meu ombro e vejo seu corpo parado, rigidamente, com suas mãos sobre o bolso e a cabeça baixa. Ele encara o chão claro. — É a primeira vez que eu a vejo aqui, me sinto um idiota.
— Eu não sou do tipo que atrai os populares. — revido e sorrio, não há ironia em nenhuma das minhas palavras. Justin sabe disso.
— Então, qual é a pergunta de hoje?
— Por que as pessoas não demonstram quem realmente são no segundo em que as conhecemos? — Justin joga seus ombros para cima. — Eu acho que não tenho mais amigas, Justin. — ele encara meu corpo todo e agora percebe que estou sentada sozinha. — Mas está tudo bem. Eu não pretendo mais vir à aula.
— Você não precisa fazer isso.
— Talvez eu não queira que as pessoas falem sobre mim. — o loiro se senta ao meu lado e encara o pacote laranja que está em minhas mãos. — Você quer um pouco? — ele apenas nega com a cabeça.
— Não importa o que as pessoas falem, Selena. Você ainda está no segundo ano, precisa vir à aula.
— Eu não quero. — sussurro. — Você disse sério sobre nós dois?
— Acho que sim.
— Então, você promete que não vai me abandonar depois? — eu o vejo engolir o seco, eu faço o mesmo.
Justin não me respondeu, apenas cerrou seus olhos e encarou suas mãos juntas.
 Então, exatamente duas semanas depois, nós nos casamos...  


"Estou sentindo e descobrindo que apenas você pode acabar com minha queda. Isso é sufocante, pois eu não sei quem você é".

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